Entrevista a Edgar Lopes: “Riscos climáticos não podem ser esquecidos, independentemente do contexto social, político ou económico”



A Green Savers falou com Edgar Lopes, Chief Risk Officer da Zurich Portugal, sobre os desafios climáticos atuais, num contexto em que as preocupações económicas estão na ordem do dia. Para o responsável, os “riscos climáticos não podem ser esquecidos, independentemente do contexto social, político ou económico”.

  1. De acordo com os resultados, a interligação dos riscos económicos, geopolíticos e sociais está a dominar o cenário de risco entre os líderes empresariais do G20, na medida em que continuam a responder às preocupações atuais relativas à disrupção do mercado e à intensificação do conflito político. Isto significa que os líderes estão preocupados no curto prazo ignorando riscos tecnológicos e ambientais. Quais as consequências?

Olhando para o atual contexto geopolítico e económico, que impacta diretamente a vidas das empresas, das famílias e das pessoas – desde os custos energéticos à subida generalizada de preços – podemos assumir como natural que os riscos económicos, geopolíticos e sociais assumam um maior grau de preocupação, tanto para as empresas como para as pessoas.

Contudo, os riscos climáticos não podem ser esquecidos, independentemente do contexto social, político ou económico. Se isso acontecer, as consequências são bastante óbvias: dado que os riscos climáticos impactam fortemente a economia e a sociedade, colocamos em causa a sustentabilidade do planeta e das gerações futuras. Garantir um futuro promissor aos jovens faz parte da responsabilidade de todos.

 

  1. Os resultados deste ano contrastam fortemente com os de 2021, particularmente em áreas-chave como o risco tecnológico e ambiental. Além disso, o inquérito antecedeu a COP27, no Egito, onde vários países têm não apenas alertado para os riscos ambientais como têm reiterado o compromisso de ajudar ao objetivo de limitar o aquecimento a 1,5°C. Como é que se explica esta contradição?

Pode parecer uma contradição, mas reflete também os grandes acontecimentos que temos vivido. Se olharmos para os dois últimos anos, recordamos desde logo uma crise pandémica e um conflito militar, de grande escala, em solo europeu. Ambos são experiências impactantes e transformadoras das nossas vidas e da economia global. É neste contexto que os riscos tecnológicos e ambientais perdem prioridade.

Ainda assim, a urgência de respondermos aos desafios climáticos mantém-se. É urgente manter o compromisso com a adaptação e mitigação às alterações climáticas nas agendas mundiais e nacionais e também das empresas.

 

  1. Quais os impactos das alterações climáticas tanto a curto como a longo prazo?

Temos visto, com cada vez mais frequência e severidade, fenómenos climáticos extremos, sejam ondas de calor ou de frio, seca ou tempestades. Os impactos sentem-se a vários níveis, como por exemplo, na perda de vidas e bens, na destruição de infraestruturas e paisagens, na deslocação de pessoas, no aumento de produtos escassos ou no stress hídrico.

Esses episódios climáticos são resultantes de anos consecutivos sem um plano de ação global sobre as temáticas ambientais. É já certo que estes fenómenos se tonarão mais severos e frequentes e isso obriga-nos a adotar medidas preventivas reforçadas. Cabe-nos a nós, atuais ‘habitantes’ do planeta, garantir que as temáticas ambientais sejam uma preocupação respondida por todos nós.

 

  1. O que é que importa fazer no atual ambiente geopolítico e económico desafiante?

Importa, sobretudo, manter os riscos ambientais nas agendas internacionais, dos governos e das empresas. Pelo impacto transversal dos riscos ambientais a nível social e económico nas nossas vidas, têm que estar entre as prioridades.

O compromisso com os riscos ambientais não pode cingir-se apenas às palavras, mas a planos de ação concretos, estruturados e devidamente avaliados e escrutinados, de modo a que todo o investimento tenha o seu retorno para o bem-estar das pessoas, para economias robustas e para a prosperidade do planeta.

 

  1. Quais os desafios climáticos atuais, especialmente num contexto em que as preocupações económicas estão na ordem do dia?

Temperaturas cada vez mais extremas, escassez de produtos alimentares, períodos de seca cada vez mais prolongados, tempestades mais severas, degelo contínuo, subida dos níveis da água dos oceanos, espécies em vias de extinção, pobreza e um leque mais ampliado de riscos para a nossa saúde.

Não há um dia que passe em que não sejamos impactados por uma notícia relativa a qualquer um destes temas, o que reitera a importância que as questões climáticas devem assumir na nossa agenda.

 

  1. Tem ideia de como pensam os líderes portugueses relativamente aos riscos ambientais e o que é que falta para terem a sustentabilidade ambiental e as crises climáticas entre as suas principais preocupações?

 

A sustentabilidade é cada vez mais um tema presente na nossa sociedade e também na vida das empresas. O que está em causa é o grau de urgência, ou seja, o momento que o planeta vive pede cada vez mais ação por parte de todos nós.

Por um lado, temos de ser compreensivos e entender que o impacto da inflação e custos energéticos, fruto do atual contexto geopolítico e económico, é algo já bem visível e palpável no dia a dia das nossas empresas, e que naturalmente já está a obrigar a mudanças para responder ao desafio imediato.

Por outro lado, não podemos desvalorizar os riscos climáticos como se fossem uma ameaça distante. Não são e por todo o mundo temos cada vez mais sinais do impacto catastrófico que podem ter nas nossas vidas e no futuro do planeta.

O que as sociedades pedem, e em particular as gerações mais novas, é mais ação. Isso é uma responsabilidade de todos e ainda mais de quem é tem a missão de liderar e dar o exemplo, como também é o caso das empresas e dos empresários.

 

 

 





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