“Estamos a trabalhar nos diversos domínios para tornar Portugal não só mais sustentável como mais rico”, defende Mário Parra da Silva
A prosperidade e a confiança foram apontadas como bases do desenvolvimento sustentável e do equilíbrio entre pessoas, planeta e economia na abertura da 20.ª Semana da Responsabilidade Social, da APEE.
Ao celebrar 20 anos de existência, a Semana da Responsabilidade Social da APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial – assume um novo posicionamento estratégico e conceptual. Na sessão inaugural, Mário Parra da Silva, Presidente da Direção da APEE e da UN Global Compact Network Portugal, destacou que é tempo de atualizar a designação e reforçar a ligação entre ética, economia e sustentabilidade. “Semana de Responsabilidade Social é uma designação algo datada. Portanto, vamos continuar com o evento, mas com outro nome. O que está a ser cada vez mais destacado em toda a Europa é a necessidade de voltarmos a dar muita atenção ao equilíbrio e dinamismo económicos, porque é aí que as pessoas vão buscar o emprego, a estabilidade das suas famílias e é aí, também, que se pode não fazer sustentabilidade. A economia sustentável é agora o novo paradigma.”
O especialista reforçou que a economia deve ser vista como motor essencial do desenvolvimento sustentável: “Tudo começa e acaba na economia. É muito importante fazer com que a opinião pública e outras partes interessadas deixem de olhar para a criação de valores, para as empresas como algo mau. Mal de nós se as empresas não criarem valor. Portanto, é esse salto em frente que temos de dar: fazer com que as empresas sejam um agente, talvez até o principal agente, na mudança para o futuro”, afirmou à Green Savers, media partner do evento.
Nesta 20.ª edição, que decorre no Estúdio Time Out, em Lisboa, o tema dos 5 P´s do desenvolvimento sustentável – Pessoas, Planeta, Prosperidade, Paz e Parcerias – estrutura as conversas e debates. Parra da Silva explicou como estes cinco pilares refletem uma nova hierarquia de prioridades. “Ao falar destes 5 P’s já estamos a falar no sentido em que a Economia tem de estar presente. Primeiro vêm as pessoas, com os ODS extraídos às pessoas, depois veio a Economia, o Ambiente, e no fim, as parcerias. Claro que o Ambiente é muito importante, por isso deve ficar para o fim, pois ninguém pensa logo nas coisas muito importantes, primeiro pensam nas questões urgentes. Portanto, vamos primeiro resolver as urgentes, que é dar às pessoas condições de vida, igualdade de género, igualdade de oportunidades, educação. Quando as pessoas já não estiverem a pensar se terão ou não jantar, poderão pensar nos impactos ambientais.”
Para o presidente da APEE, a prosperidade é a base para a paz e para a coesão social: “A prosperidade é essencial sob pena de não haver paz. Cria-se valor de forma continuada quando se cria confiança. Precisamos de uma esperança ativa. Não vão acontecer coisas se não nos envolvermos, mas se o fizermos deixamos um mundo melhor às novas gerações”, disse. E continuou: “Estamos a trabalhar nos diversos domínios para tornar Portugal não só mais sustentável como mais rico. Criar valor num país de salários baixos. Se os empregados se sentirem envolvidos, possivelmente terão outro empenho e ideias. Não há competitividade que nos salve se os trabalhadores não virem reconhecidas as suas necessidades e estiverem envolvidos. Vivemos tempos exigentes. Portugal precisa de ter fé em si próprio.”
Reflexão sobre o país e os desafios da sustentabilidade
À margem da sua intervenção, Mário Parra da Silva apontou também a importância da responsabilidade coletiva e o papel das lideranças. “Nós temos uma responsabilidade, antes de mais, uns para com os outros. E depois, dessa responsabilidade emerge o criar condições à nossa volta que permitam a nossa existência.”
Sobre o estado atual de Portugal, deixou uma análise crítica e apontou o caminho que o país ainda tem de percorrer: “Ajudei a pôr Portugal na União Europeia e nunca imaginei que, ao fim destes anos todos, ainda houvesse pessoas a construírem em qualquer lado sem condições, bolsas de fome, mas isto existe. Qual é a solução? Uma vassourada monstra em toda a gente que nos governa? São eles os culpados? Não são. Somos todos vítimas da nossa maneira de ser. Outros países mais pobres do que nós, com outra maneira de ser, conseguiram progredir muitíssimo mais, caso da Irlanda ou dos países de Leste. Nós, em vez de planear, damos um jeitinho. Em vez de fazer as coisas de acordo com as regras, improvisa-se. E é isso que nos prejudica no desenvolvimento.”
Um espaço de conhecimento e partilha
A Conferência Inaugural, dedicada precisamente aos 5 P´s, contou também com Gabriel Osório de Barros, Subdiretor do PLANAPP – Centro de Planeamento e de Avaliação de Políticas Públicas, que abordou a importância da avaliação de políticas públicas no avanço dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, Patrícia Pereira da Silva, Vice-Reitora da Universidade de Coimbra, que destacou o papel da academia na transição energética e na sustentabilidade institucional e José António Mouraz Lopes, Presidente do MENAC – Mecanismo Nacional Anti-Corrupção, que sublinhou a ética, transparência e boa governação como pilares de confiança social e económica.
Durante dois dias, o evento transforma o Estúdio Time Out num verdadeiro laboratório de ideias, com conferências, debates e sessões de networking. A diversidade de formatos visa promover uma visão integrada dos cinco pilares. mostrando como a prosperidade económica só é sustentável se caminhar lado a lado com a inclusão social, a preservação ambiental, a paz e a cooperação entre setores.
O primeiro dia inclui ainda a cerimónia de entrega dos prémios da 11.ª edição do Reconhecimento de Práticas em Responsabilidade Social e Sustentabilidade, que distingue organizações públicas e privadas, com e sem fins lucrativos, pelas suas boas práticas em ética, sustentabilidade e boa governação.