Expedição científica revela “presença alarmante” de espécies não nativas no arquipélago guineense de Bijagós

Um missão científica liderada pelo Centro de Ciências do Mar do Algarve (CCMAR) revela uma grande biodiversidade no Arquipélago de Bijagós, na Guiné-Bissau, mas também a “presença alarmante” de espécies não nativas.
Naquele que é considerado um dos ecossistemas mais intactos da África Ocidental, e Reserva da Biosfera da UNESCO, desde 1996, a equipa colaborou com instituições locais, o Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas (IBAP), e o Instituto Nacional de Investigação Pesqueira e Oceanográfica (INIPO), para desvendar a grande variedade de espécies de invertebrados marinhos que habitam nos mares guineenses.
Em processo de se tornar património mundial e reconhecido como uma das regiões ecológicas mais ricas, porém pouco estudadas, da costa atlântica africana, o Arquipélago dos Bijagós é formado por 88 ilhas e ilhéus e, diz o CCMAR em comunicado, “é um exemplo raro de convivência equilibrada entre a natureza e a comunidade local”.
Em março de 2023, a equipa desse centro de investigação algarvio preparou uma expedição para amostrar e identificar espécies de invertebrados no arquipélago, um grupo de animais que ainda não tinha sido estudado na região.
“Nesta campanha, graças à excelente colaboração das equipas de Portugal e da Guiné-Bissau, conseguimos amostrar locais pouco acessíveis e descrever alguma dessa biodiversidade marinha ainda desconhecida nos Bijagós”, conta, citada em nota, Ester Serrão, coordenadora da expedição e investigadora da Universidade do Algarve e do CCMAR.
Combinando competências em mergulho científico, genética e morfologia, a equipa documentou 28 novos registos de invertebrados marinhos no arquipélago, incluindo seis espécies nunca antes observadas no Atlântico Este.
“Estes resultados mostram que a biodiversidade marinha da África Ocidental continua amplamente subestimada”, consideram os investigadores.
No entanto, o que mais alertou a equipa foi a quantidade de espécies não nativas presentes e a sua grande capacidade de dispersão. Segundo os cientistas, muitas destas espécies poderão ter chegado por dispersão passiva, agarradas a cascos de navios, equipamentos de pesca ou outras estruturas flutuantes. Este fenómeno é cada vez mais facilitado pelo tráfego marítimo internacional entre o Indo-Pacífico, as Caraíbas e a África Ocidental, explicam.
Para além desses novos registos, a equipa também detetou o primeiro registo no Atlântico Este de um camarão invasor da Lysmata rauli e encontraram duas novas espécies de camarão endémicas da região: a Periclimenes africanus e uma segunda, ainda não descrita, do género Palaemon.
“O que descobrimos nesta expedição é apenas a ponta do icebergue da complexidade biológica local”, declara Carlos Moura, autor principal do artigo publicado na ‘Ecology and Evolution’, que dá conta das descobertas.
A equipa considera que a introdução de espécies não nativas é “um problema silencioso”, mas com potencial para alterar profundamente os ecossistemas marinhos da região. Por isso, reforçam a necessidade urgente de monitorização ambiental ativa para compreender a biodiversidade de Bijagós, identificar as ameaças aos ecossistemas marinhos e implementar medidas de mitigação da introdução de espécies não nativas.