Fabricantes chineses de baterias apostam em Marrocos para conquistar mercado europeu



A China está a reforçar investimentos no setor das baterias elétricas em Marrocos, visando contornar barreiras comerciais e assegurar acesso preferencial ao mercado europeu, segundo uma análise do grupo de reflexão (‘think tank’) Gavekal Dragonomics.

Vastas reservas de fosfato e acordos de livre comércio com a União Europeia tornam Marrocos no “local preferido” para as empresas chinesas instalarem as suas cadeias de abastecimento, descreveu o grupo de reflexão, num relatório.

A localização estratégica e os incentivos fiscais reforçam essa atratividade.

“Marrocos está a colher os frutos de um esforço de modernização de 25 anos, liderado pelo seu rei reformador, Mohammed VI. Com mão-de-obra de baixo custo, políticas de investimento favoráveis e infraestruturas de transporte eficientes, o país beneficiou da regionalização das cadeias de abastecimento globais, emergindo como uma plataforma para o mercado europeu”, refere a Gavekal Dragonomics, citado na análise.

O porto de Tanger Med, o maior terminal de contentores do Mediterrâneo, localizado a apenas 14 quilómetros do sul de Espanha, através do Estreito de Gibraltar, é apontado como outro dos fatores decisivos, a par das dezenas de acordos de livre comércio que Marrocos mantém com parceiros como o Reino Unido e os Estados Unidos.

Empresas como as chinesas BYD e CATL investiram, nos últimos dez anos, no desenvolvimento desta tecnologia, antevendo a transição do setor automóvel para o segmento elétrico.

A China detém agora mais de 80% da capacidade global de fabrico de baterias para veículos elétricos e o monopólio das matérias-primas e componentes chaves necessários para a produção, ameaçando abalar o ‘status quo’ da indústria automóvel, dominada há décadas pelos fabricantes ocidentais e japoneses.

Marrocos produz atualmente cerca de um milhão de veículos por ano, metade dos quais destinados ao mercado europeu. Embora a produção se concentre, por agora, em automóveis com motor de combustão interna, as autoridades marroquinas preveem que, até 2030, os veículos elétricos representem até 60% das exportações do setor, antecipando a proibição da utilização de combustíveis fósseis na União Europeia, prevista para 2035.

Marrocos detém cerca de 70% das reservas mundiais de fosfato, posicionado o país ao lado do Chile (lítio), da Indonésia (níquel) e da República Democrática do Congo (cobalto) no grupo dos principais fornecedores de minerais críticos, observou a Gavekal Dragonomics.

O fosfato é um componente essencial das baterias de lítio-ferro-fosfato (LFP, na sigla em inglês), que, embora menos densas em termos energéticos do que as baterias de níquel-manganês-cobalto — habitualmente usadas em veículos elétricos de alta performance —, apresentam um custo mais reduzido.

A China concentra quase 100% da capacidade de produção instalada de baterias LFP. No entanto, uma combinação entre excesso de capacidade e ameaças de tarifas no exterior está a levar as empresas chinesas a deslocalizar parte da produção para o estrangeiro.

“Trata-se de uma oportunidade significativa para Marrocos, que ambiciona transformar os fosfatos na espinha dorsal do seu futuro desenvolvimento industrial”, assinalou a Gavekal Dragonomics. “Com o apoio de empresas estrangeiras, o país está a posicionar-se ao longo de toda a cadeia de valor dos veículos elétricos — desde a extração e refinação até à produção de células, fabrico de baterias e montagem final. Se conseguir capitalizar este impulso, Marrocos poderá tornar-se o maior polo de produção de baterias LFP fora da China”, acrescentou o grupo de reflexão.






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