Glaciares podem perder mais de 70% da sua massa com os atuais compromissos climáticos globais

Os atuais compromissos climáticos feitos pelos países do mundo podem levar a Terra a aquecer 2,7 graus Celsius até 2100 acima dos níveis pré-industriais do final do século XIX.
Em 2015, os líderes globais adotaram o Acordo de Paris e prometeram tudo fazer para impedir que o planeta aqueça acima dos 1,5 graus até ao final do século, mas tudo indica que essa meta, pelo menos no atual estado de coisas, será largamente ultrapassada.
Se a atual tendência de aquecimento se mantiver, os cientistas dizem que os glaciares do planeta poderão perder 76% da sua atual massa, o que resultaria num aumento de 23 centímetros do nível médio global do mar. Por outro lado, num cenário de aquecimento de 1,5 graus, essa perda deverá rondar os 47%.
Mesmo que sejamos capazes de cumprir as metas climáticas de Paris, os glaciares continuarão a derreter. “Quando travamos as alterações climáticas, os glaciares não param de perder massa”, avisa Regine Hock, da Universidade do Alasca em Fairbanks, nos Estados Unidos da América, e uma das autoras do estudo publicado esta semana na revista ‘Science’.
“Os glaciares têm uma memória”, assegura, indicando que “eles continuam a perder massa durante dezenas, centenas ou mesmo milhares de anos até que recuam para altitudes elevadas onde está mais frio”.
Os cientistas estimam que por cada 0,1 graus Celsius de aquecimento acima do limite de 1,5 graus se perdem uns adicionais 2% de massa dos glaciares a nível global, fazendo subir o nível médio do mar 6,5 milímetros. Pensa-se que só daqui a mil anos, e partindo do princípio de que o aquecimento global não excedeu os 1,5 graus, é que os glaciares deixariam de perder massa, alcançando, por fim, um ponto de equilíbrio.
“O nosso estudo torna dolorosamente claro que cada fração de grau importa”, diz Harry Zekollari, da Vrije Universiteit Brussel e primeiro autor do estudo.
“As escolhas que fazemos hoje repercutir-se-ão durante séculos, determinando a quantidade de glaciares que se conseguem preservar.”
Recorde-se que um outro estudo, publicado este mês, revela que mesmo que o aquecimento global seja revertido os glaciares demorarão séculos a recuperar. Fabien Maussion, um dos autores, dizia que “as políticas climáticas atuais estão a colocar a Terra numa trajetória próxima dos 3°C”, e que “é claro que um mundo assim é muito pior para os glaciares do que um em que se mantém o limite de 1,5°C”.