Greta Thunberg e Vanessa Nakate publicam carta aberta aos media. Leia-a aqui

As ativistas publicaram uma carta aberta a todos os meios de comunicação social, em vésperas da Cimeira mundial COP26.

A carta difundida pela revista Time, que aqui traduzimos e publicamos, é assinada por Vanessa Nakate, uma ativista de justiça climática do Uganda e fundadora do Movimento Rise Up e Greta Thunberg, uma ativista climática sueca e cofundadora do movimento Fridays for Future.

“Caros editores de Media em todo o mundo,

Derretimento das calotas polares, incêndios florestais, secas, ondas de calor mortais, inundações, furacões, perda de biodiversidade. Tudo isto são sintomas de um planeta desestabilizado, que estão a acontecer à nossa volta, a todos os momentos.

Esse é o tipo de coisas que vocês relatam. Às vezes. A crise climática, no entanto, é muito mais do que isso. Se desejam realmente cobrir a crise climática, também devem relatar as questões fundamentais de tempo, pensamento holístico e justiça.

Então, o que isto significa? Vejamos estes problemas um por um.

Primeiro, a noção de tempo. Se as vossas histórias não incluem a noção de um relógio acelerado, então a crise climática é apenas um tópico político entre outros tópicos, algo que podemos simplesmente comprar, construir ou investir para sair. Deixe de lado o aspecto do tempo e podemos continuar como hoje e “resolver os problemas” mais tarde. 2030, 2050 ou 2060. A melhor ciência disponível mostra que, com a nossa taxa atual de emissões, o nosso orçamento de carbono restante para ficar abaixo de 1,5 ° C estará esgotado antes do final desta década.

Em segundo lugar, pensamento holístico. Ao considerar o nosso orçamento de carbono restante, precisamos contar todos os números e incluir todas as nossas emissões. Atualmente, está a deixar as nações mais desenvolvidas e os grandes poluidores escaparem do gancho, permitindo que se escondam atrás de estatísticas incompletas, lacunas e retórica que lutaram tanto para criar nos últimos 30 anos.

Terceiro, e o mais importante de tudo, justiça. A crise climática não se trata apenas de condições meteorológicas extremas. É sobre pessoas. Pessoas reais. E as mesmas pessoas que menos fizeram para criar a crise climática são as que mais sofrem. E embora o Sul esteja na linha de frente da crise climática, quase nunca está nas primeiras páginas dos jornais mundiais. Como os media ocidentais se concentram em incêndios florestais na Califórnia ou Austrália ou inundações na Europa, catástrofes relacionadas com o clima estão a devastar comunidades em todo o Sul, mas recebem muito pouca cobertura.

Para incluir o elemento de justiça, não pode ignorar a responsabilidade moral do Norte de se mover muito mais rápido na redução das suas emissões. No final deste ano, o mundo terá queimado coletivamente 89% do orçamento de carbono, o que nos dá uma chance de 66% de ficar abaixo de 1,5°C.

É por isso que as emissões históricas não contam apenas, mas estão de facto no centro do debate sobre a justiça climática. No entanto, as emissões históricas ainda estão a ser quase completamente ignoradas pelos media e pelas pessoas no poder.

Para ficar abaixo das metas estabelecidas no Acordo de Paris e, assim, minimizar os riscos de desencadear reações em cadeia irreversíveis além do controlo humano, precisamos de reduções de emissões anuais imediatas e drásticas, como tudo o que o mundo já viu. E como não temos as soluções tecnológicas que sozinhas farão algo parecido com isso mum futuro previsível, isso significa que temos que fazer mudanças fundamentais na nossa sociedade. Este é o resultado desagradável do fracasso dos nossos líderes em lidar com esta crise.

A sua responsabilidade em ajudar a corrigir essa falha não pode ser exagerada. Somos animais sociais e se os nossos líderes e os nossos media não agirem como se estivéssemos numa crise, então é claro que não entenderemos que estamos. Um dos elementos essenciais de uma democracia funcional é uma imprensa livre que informe objetivamente os cidadãos sobre os grandes desafios que a nossa sociedade enfrenta. E os media devem responsabilizar as pessoas no poder pelas suas ações ou omissões.

Você está entre as nossas últimas esperanças. Ninguém mais tem a possibilidade e a oportunidade de alcançar tantas pessoas no prazo extremamente curto que temos. Não podemos fazer isso sem si. A crise climática só vai tornar-se mais urgente. Ainda podemos evitar as piores consequências, ainda podemos reverter isto. Mas não se continuarmos como hoje. Você tem os recursos e as possibilidades para mudar a história da noite para o dia.

Se escolhe ou não enfrentar esse desafio, depende de si. De qualquer forma, a história irá julgá-lo.

Greta e Vanessa”