Incêndios quase fazem duplicar perda de florestas tropicais em 2024

No ano passado, 6,7 milhões de hectares de floresta tropical primária foram perdidos em todo o mundo, uma área equivalente à do Panamá e mais do que em qualquer outro ano nas últimas duas décadas.
De acordo com dados divulgados pela Universidade de Maryland (Estados Unidos da América) e pela plataforma Global Forest Watch do Instituto Mundial de Recursos (WRI), em 2024 perdeu-se, em média, cerca de 18 campos de futebol de floresta tropical por minuto, uma perda 80% superior aos níveis de 2023.
Em resultado dessa perda, foram libertadas na atmosfera 3,1 mil milhões de toneladas de gases com efeito de estufa, um valor ligeiramente acima das emissões de dióxido de carbono anuais da Índia.
Os incêndios foram uma das principais causas de perda de floresta tropical primária, queimando cinco vezes mais área do que em 2023, com os relatores a explicarem que, embora os incêndios sejam fenómenos que ocorrem naturalmente, nas florestas tropicais “são quase inteiramente provocados pelos humanos”.
A região da América Latina foi das mais atingidas, incluindo o Brasil e a Colômbia – o primeiro receberá a COP do clima em novembro deste ano e o segundo recebeu a COP da biodiversidade no ano passado – onde a redução da perda de floresta primária conseguida em 2023 acabou por ser anulada um ano depois.
As perdas de floresta tropical primária não relacionadas com incêndios também aumentaram 14% entre 2023 e 2024, sobretudo por causa da conversão em terras agrícolas. Nos últimos 24 anos, dizem os dados, a desflorestação para criação de culturas permanentes foi a principal causa de perda de floresta tropical primária a nível global.
Os autores da análise dizem que “não nos podemos dar ao luxo de ignorar o sinal de alerta de 2024”, avisando que para travar e reverter a perda de floresta até 2030, uma meta plasmada em vários acordos internacionais e com a qual os líderes mundiais se comprometeram, é preciso reduzir em 20% a perda anual de floresta, face a níveis de 2024.
“Será preciso agir em muitas frentes para que as tendências evoluam na direção certa”, salientam, incluindo lideranças políticas mais robustas, empenhadas e com visão de longo-prazo, esforços redobrados das empresas para combaterem as desflorestação das suas cadeias de valor, uma prevenção e resposta mais eficaz face a incêndios, reforçar o combate aos crimes ambientais e mais financiamento para a proteção e restauro florestal.