Instituição de proteção da vida selvagem enfrenta ação por 12 mortes humanas



O Fundo Internacional para o Bem-Estar dos Animais (IFAW), que esteve envolvido na deslocação de elefantes na fronteira entre o Malaui e a Zâmbia, enfrenta ações judiciais por 12 mortes humanas, segundo os advogados das comunidades agrícolas rurais.

O escritório de advogados britânico Leigh Day, que representa 10 pessoas que vivem perto do Parque Nacional Kasungu, nesta região fronteiriça da África austral, refere que os ofendidos pedem indemnizações porque dizem que a deslocação de mais de 260 elefantes provocou a morte de pelo menos 12 pessoas, fez vários feridos e destruiu colheitas e propriedades.

Segundo os advogados, milhares de pessoas estão a viver com medo e várias tiveram as vidas arruinadas pela chegada dos elefantes em 2022.

Os elefantes deveriam estar contidos no parque, mas os maiores animais terrestres do mundo raramente respeitam as fronteiras feitas pelo homem e têm quebrado as vedações para invadir as comunidades agrícolas de pequena escala dos dois países em busca de comida e água, causando mortes e danos, de acordo com os advogados.

A Leigh Day afirmou que as comunidades pretendem que o IFAW, uma reputada instituição de solidariedade social com sede nos Estados Unidos, que esteve envolvida na deslocação dos elefantes, “resolva os danos” que alegadamente sofreram.

Os advogados enviaram cartas às entidades comerciais do IFAW no Reino Unido, no Malaui e na Zâmbia e referiram que, se não houvesse qualquer compromisso, apresentariam uma queixa contra o grupo de conservação num tribunal britânico.

A IFAW disse estar profundamente triste com qualquer conflito entre humanos e animais selvagens em Kasungu e arredores, mas rejeitou qualquer irregularidade.

O grupo de proteção da vida selvagem disse que o seu papel no projeto de realojamento era fornecer apoio financeiro e técnico e que o Governo do Malaui “tem jurisdição e responsabilidade geral por todos os parques nacionais e vida selvagem no Malaui”, acrescentando, em comunicado, que a recolocação foi efetuada por especialistas de várias organizações.

O departamento de parques do Malaui não respondeu a perguntas enviadas por correio eletrónico sobre os problemas com os elefantes em Kasungu.

O caso reflete as dificuldades que muitos países africanos enfrentam para equilibrar a necessidade de conservar a vida selvagem com o impacto que os animais selvagens têm sobre as pessoas que partilham o seu habitat. O número de elefantes aumentou em algumas partes do continente devido a décadas de trabalho de conservação bem sucedido, e um novo desafio é assegurar que sejam capazes de coexistir com as pessoas.

As alterações climáticas significaram uma maior competição entre humanos e animais por recursos como comida e água e os elefantes podem ser especialmente destrutivos. Os elefantes adultos podem comer 150 quilos de vegetação e beber 200 litros de água por dia e conseguem arrancar árvores, destruir campos de cultivo e furos e saquear lojas para obter comida e água.

Alguns países africanos abatem os elefantes para controlar o seu número ou permitem que sejam caçados para angariar fundos.

Por vezes, têm sido criticados por esse facto, questão que foi bem expressa no ano passado, quando o então Presidente do Botsuana, Mokgweetsi Masisi, ameaçou enviar 20.000 elefantes para a Alemanha, em resposta às críticas deste país ao negócio da caça e dos troféus de elefante no Botsuana.

“[Os alemães deveriam] viver em conjunto com os animais da forma que vocês estão a tentar dizer-nos”, disse Masisi ao jornal alemão Bild, advertindo: “Isto não é uma brincadeira”.

O projeto de recolocação de animais no Malaui, em julho de 2022, foi inicialmente visto como um grande sucesso, ao levar 263 elefantes de um parque mais pequeno e sobrepovoado para Kasungu, onde o número de elefantes tinha diminuído há anos devido à caça furtiva. Foi um dos maiores projetos de realojamento de elefantes empreendidos.






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