Lagarta “colecionadora de ossos” usa corpos de insetos mortos como camuflagem

Na ilha de O’ahu, no Havai, foi descoberta uma nova espécie de lagarta que usa pedaços de insetos mortos para poder viver nos ninhos de aranhas e alimentar-se dos seus restos, sem se converter ela própria em presa.
Num artigo publicado recentemente na revista ‘Science’, um trio de investigadores da Universidade do Havai em Mānoa, revela que a pequena lagarta, que ainda não tem nome científico mas que pertence ao género Hyposmocoma, é um exemplo raro de uma espécie de mariposa cujas lagartas são carnívoras. E, como se não bastasse, esta espécie é também canibal. Estima-se que das cerca de 200 mil espécies de mariposas e borboletas hoje conhecidas em todo o mundo, menos de 0,13% têm lagartas que não são herbívoras.
Vídeo mostra lagarta “colecionadora de ossos” a consumir outra lagarta da mesma espécie, numa demonstração de comportamento canibal, raro entre as espécies de borboletas e mariposas. Fonte: Rubinoff et al., 2025.
Batizada com o cognome informal de “colecionadora de ossos”, por adornar o seu corpo com restos de cadáveres de insetos comidos pelas aranhas, esta lagarta peculiar vive mesmo nas teias desses predadores de oito patas, alimentando-se oportunisticamente de insetos enfraquecidos ou que tenham morrido recentemente.
“Isso é algo que nunca imaginámos ser possível”, admite Daniel Rubinoff, primeiro autor do artigo.
Para o entomólogo, esse “é mais um exemplo do quão incrível e imprevisível a evolução no Havai pode ser”.
Através de análises genéticas, o grupo de investigadores estima que a linhagem dessa lagarta terá, pelo menos, seis milhões de anos, tendo surgido muito antes de as atuais ilhas havaianas se terem formado. Isso sugere que, em tempos distantes, essa espécie poderá ter tido uma distribuição geográfica ampla, ocorrendo em antigas ilhas no noroeste do principal arquipélago do Havai, agora submersas.
A par da descoberta dessa espécie desconhecida, os cientistas lançam um alerta: sem medidas urgentes de conservação, a “colecionadora de ossos” poderá desaparecer. Isto, porque, depois de décadas de procura, a lagarta só foi, até agora, encontrada numa área de 15 quilómetros quadrados nas montanhas de Wai’anae, em O’ahu.