Maioria dos linces-ibéricos prefere zonas “humanizadas” a áreas protegidas



Cerca de 60% dos linces na Península Ibérica preferem instalar-se fora de áreas protegidas, como as da Rede Natura 2000, e vivem em territórios “mais humanizados”, onde enfrentam maiores riscos, como os atropelamentos em estradas.

Este foi um dos dados revelados hoje no arranque do Congresso Internacional Lince-Ibérico, em Sevilha, Espanha, organizado pelo programa de conservação da espécie LIFE Lynx Connect, que junta entidades públicas e privadas de Espanha e Portugal.

Segundo o coordenador do programa, Javier Salcedo, é preciso “tentar encontrar as causas” que levam a que a maioria dos linces-ibéricos ocupe territórios fora de áreas protegidas.

“Não sabemos exatamente porquê. Temos de parar e tentar encontrar as causas que originam esta situação. É óbvio que quando uma espécie cresce muito não podemos esperar ter toda a população num espaço protegido, mas temos 60% dos linces fora desses espaços protegidos”, sublinhou, em declarações à Lusa em Sevilha.

Ressalvando que os linces se têm instalado em zonas onde há abundância de coelhos – de que se alimentam e dependem – Javier Salcedo sugeriu que “talvez a gestão dos espaços protegidos não seja a adequada”, a que se somam “outros fatores mais difíceis” de ter resposta, como o despovoamento de zonas rurais e do interior.

“Isso implica não só um problema demográfico, tem também consequências a nível da conservação”, afirmou, acrescentando que, por exemplo, desapareceram “práticas que se fizeram durante milénios”, o que transformou habitats e paisagens.

Javier Salcedo disse que nos próximos anos os programas de conservação do lince-ibérico devem “aprofundar este aspeto” e lembrou que “os habitats mais humanizados implicam maiores riscos” para a espécie.

Em 2024 foram identificados 2.041 linces em Espanha e Portugal, mais 19% do que em 2023, segundo o censo anual realizado pelas entidades espanholas e portuguesas que integram o projeto de recuperação da espécie, revelado em maio.

No ano passado, morreram também 214 linces, 162 deles por atropelamento em estradas.

Os projetos de conservação do lince-ibérico, maioritariamente financiados por programas europeus LIFE, arrancaram em 2002, ano que o número total de animais era inferior a 100.

Em 2024 a espécie deixou de ser classificada “em risco” para passar a “vulnerável” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

O projeto de recuperação e conservação do lince ibérico envolve diversas entidades públicas e privadas em Portugal e Espanha.

Em Portugal, a coordenação cabe ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).






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