Mau tempo: Subida dos rios Tejo e Zêzere gera inundações tidas por “normais” em Constância

A baixa de Constância, na confluência dos rios Tejo e Zêzere, tem hoje vários equipamentos submersos devido à subida dos caudais, situação que o autarca local disse ser “tranquila” e “normal”, rejeitando um cenário de perigosidade.
“Tivemos dias de muita chuva, as barragens atingiram a capacidade máxima e começaram a libertar água, pelo que, em Constância, os efeitos fazem-se sentir mas, na verdade, os rios estão dentro daquilo que é o leito natural dos mesmos”, disse hoje à Lusa o presidente da Câmara de Constância (Santarém), lembrando que os atuais caudais estão muito longe dos que originaram as cheias em 2013 ou 1979.
Sérgio Oliveira acrescentou que Constância tem a particularidade de estar na confluência dos rios Tejo e Zêzere e das zonas ribeirinhas, áreas historicamente suscetíveis a inundações, receberem os impactos da conjugação das descargas de várias barragens, como a de Castelo de Bode, no Zêzere, e das várias barragens portuguesas e espanholas, no Tejo.
“Constância sofre sempre mais esse impacto porque quando a barragem do Castelo de Bode é obrigada a debitar, e se o rio Tejo levar um caudal grande, toda aquela água que vem do Castelo de Bode recua e forma ali uma baía, inundando a zona baixa, os espaços verdes e a zona ribeirinha da vila”, declarou.
Constância regista hoje a submersão total do parque de estacionamento no parque ribeirinho, incluindo a praia fluvial, tendo a proteção civil interditado ainda a circulação na rua do Tejo, por precaução, situação “normal” nestas situações.
“Para nós, aqui em Constância, isto é uma situação normal. Em invernos mais chuvosos é normal que o rio galgue as margens, que o parque de estacionamento e os espaços verdes fiquem submersos e não é nada que seja alarmante ou fora do que é habitual”, realçou.
Em termos comparativos, e tendo em conta que os caudais hoje registados em Almourol, a jusante de Constância, eram de 2.600 m3/s, o autarca lembrou as cheias de 2013, quando os caudais eram quatro vezes superiores e chegaram à Praça Alexandre Herculano, no casco histórico da vila, ou mesmo a maior cheia ali registada, em 1979.
“Eu não consideraria isto, pelo menos no caso de Constância, uma cheia. Acho que é uma situação normal, os rios estão dentro daquilo que é o leito que nos habituámos a ver, portanto, para nós, cheia é a água chegar à Praça Alexandre Herculano e estamos muito longe de chegar a esse ponto”, observou.
As pessoas de Constância “estão habituadas a isto”, e “alguns até brincam perante a situação que temos, quando alguém refere cheia”, disse o autarca, destacando o número de pessoas interessadas em assistir à subida das águas.
No domingo à tarde, “em Constância, com o parque de estacionamento submerso, e com o número de pessoas que queriam, por curiosidade, vir ver a subida das águas, estava uma autêntica confusão no centro histórico da vila, com muita gente e muitos carros”, notou.
Em declarações à agência Lusa, o responsável do sub-comando da Proteção Civil do Médio Tejo apontou para caudais na ordem dos 2.600 m3/s registados hoje em Almourol, e “manutenção destes níveis” debitados pelo conjunto de barragens, ao longo do dia, tendo adiantado a previsão de que na terça-feira os níveis comecem a baixar.
“Estamos a monitorizar e a acompanhar os efeitos, os alertas à população foram feitos, e agora é manter os cuidados, não arriscar, não ir fazer turismo de catástrofe, ou seja, não interagir com os efeitos dos caudais nem com as zonas que estão interditadas pelas forças de segurança e pelos serviços municipais”, disse David Lobato.
Com os valores previstos a serem debitados por Espanha, em conjunto com a sub-bacia portuguesa, o risco de galgamento das margens do Tejo mantém-se elevado, inundando os locais historicamente suscetíveis de inundação.
Os solos encontram-se saturados, pelo que a água que neste momento afeta as vias rodoviárias terá uma descida lenta, indicou a Proteção Civil.