“Megalómana e apressada”: WWF Portugal critica estratégia do Governo para a água



A organização ambientalista WWF Portugal considera que a Estratégia Nacional “Água que Une”, apresentada este domingo pelo Primeiro-ministro Luís Montenegro, em Coimbra, é uma “estratégia nacional de investimentos megalómana e apressada”.

Em reação à apresentação, a organização, em comunicado, diz que a estratégia peca por não ter “o devido respaldo e acordo prévio de outros partidos, dos municípios afetados e das organizações da sociedade civil”.

Para a WWF Portugal, esta estratégia está também “em contraciclo” com a estratégia da UE que visa assegurar uma maior conectividade dos rios, nomeadamente, eliminando barreiras fluviais obsoletas de acordo com o Regulamento Europeu do Restauro da Natureza.

Catarina Grilo, diretora de Conservação e Políticas na organização ambientalista, considera que “esta é uma estratégia que se pretendia estruturante, que exige um consenso alargado e um compromisso de longo prazo, algo que não está garantido”.

“No atual contexto geopolítico e económico, onde outros investimentos públicos são essenciais, como a redução de perdas na rede, permanecem sem financiamento assegurado, esta decisão parece irresponsável. A situação torna-se ainda mais grave quando se verifica que apenas 2 mil milhões de euros estão supostamente disponíveis, e mesmo esse montante não está garantido”, acrescenta.

Apesar da auscultação da sociedade civil e dos diversos setores sociais e de atividade envolvidos na conceção da estratégia “Água que Une”, a WWF Portugal lamenta que “as principais recomendações acolhidas parecem favorecer, sobretudo, a expansão da agricultura intensiva”.

E acrescenta que “a concentração do investimento nas infraestruturas de regadio sugere uma aposta desproporcional e que desconsidera os impactos sociais e ambientais dessa opção e os riscos económicos inerentes”,  defendendo que “a diversificação agrícola e o incentivo a culturas mais eficientes em termos de consumo de água, alinhadas com as condições ambientais locais, como culturas tradicionais ou sustentáveis, são uma alternativa mais viável e adaptada, traduzindo-se uma agricultura mais equilibrada e resiliente”.

Adicionalmente, a organização de conservação de natureza considera alarmante que o Governo esteja a propor um pacote de investimentos de 5 mil milhões de euros sem garantir a viabilidade financeira deste plano.

Manuela Oliveira, Coordenadora de Água, alerta que “o caso da barragem do Pisão já demonstrou que a União Europeia não irá financiar novas grandes barragens, colocando ênfase na necessidade dos Estados-membros de libertarem os seus rios de barreiras obsoletas, algo que Portugal não tem vindo a realizar, encontrando-se muito aquém, por exemplo, da vizinha Espanha”.

A WWF Portugal enfatiza que existem alternativas mais sustentáveis e de baixo custo, como o restauro de zonas húmidas, proteção de aquíferos e o uso de tecnologias de armazenamento alternativas, como reservatórios naturais ou infiltração de água no solo. Essas soluções, sustenta a organização, não só reduzem o impacto ambiental, como também contribuem para a conservação dos ecossistemas e para a sustentabilidade a longo prazo dos recursos hídricos.

Além disso, aponta que esta estratégia inverte a hierarquia das prioridades definidas pelo diploma legal que criou o próprio Grupo de Trabalho responsável pela sua elaboração, indicando que “a aposta excessiva nas chamadas infraestruturas cinzentas e noutras opções económica, social e ambientalmente irresponsáveis, contraria os princípios de desenvolvimento sustentável e uma gestão equilibrada dos investimentos públicos”.

Dessa forma, a WWF Portugal apela a que a estratégia seja revista “o mais rapidamente possível de forma a corrigir as suas fragilidades, suportando-se de eficientes respostas às necessidades sociais (e não apenas económicas) de uma gestão da água”. E defende que  “a estratégia deve refletir um verdadeiro compromisso com a sustentabilidade, incentivando uma cultura de conservação e uso responsável da água”, avisando que “o futuro do país não pode ser hipotecado por decisões apressadas e que colocam em risco o nosso bem mais precioso – a Natureza”.





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