Naquichevão: o segundo renascimento da região onde Noé se instalou depois do dilúvio (com FOTOS)
Já ouviu falar do Naquichevão – ou Naquichevan? Provavelmente não, como nós, mas a história desta república autónoma do Azerbaijão, com quem nem sequer faz fronteira, é pautada por violência, lutas territoriais e, mais recentemente, acções ambientais que nos deveriam corar de vergonha por não fazermos mais pelas nossas próprias florestas.
Mas já lá vamos.
O Naquichevão é um enclave do Arzebaijão entre a Arménia – norte e leste – o Irão – sul e oeste – e a Turquia, com quem tem uma pequena fronteira de apenas nove quilómetros, no rio Arax. Para complicar ainda mais a sua já de si complexa situação geográfica, o fim da União Soviética levou-o para fronteiras hostis – a Arménia, com quem o Azerbaijão mantém um conflito por causa de Nagorno-Karabakh; e o Irão.
É no final dos anos 80 que começa esta história. Com o fim do poder soviético e a guerra entre Arménia e Azerbaijão a sabotar as linhas férreas, o Naquichevão ficou cortado do resto do mundo. O acesso a bens essenciais, como combustível, tornou-se praticamente impossível. Sem gás ou carvão para sobreviver aos duros Invernos, a alternativa foi cortar as florestas, já de si degradadas devido ao desenvolvimento agrícola dos anos 60 e 70.
A destruição das florestas originou, por sua vez, constantes inundações e erosão do solo. Alguns anos depois, em vez de esperar por ajuda internacional, os governos locais, proactivamente, desenvolveram um programa de reflorestação. Todos os domingos, cidadãos juntavam-se para plantar novas árvores.
Hoje, com as linhas férreas restabelecidas através da Turquia, as árvores crescem saudavelmente em toda a região. “Os cidadãos querem o regresso das suas velhas florestas”, explica o Good.
O programa de reflorestação do Naquichevão não é o único no mundo – há dezenas de Governos e ONG que apoiam projectos idênticos no Belize, Butão, Cambodja, Moçambique, Haiti, Laos ou Madagáscar, só para darmos alguns exemplos, mas este é o único – ou dos únicos – desenvolvido proactivamente pela população, numa situação geográfica muito complexa.
Nestas alturas, a consciência ambiental costuma ser a última coisa na cabeça das pessoas. Não foi este o caso, porém. “Depois de falar com os naquichevaneses é fácil perceber por que razão esta missão é tão importante para eles. É bom, depois de tanta privação, ver algo verde outra vez. E provar novamente que eles não se vão abaixo facilmente”, explica o agregador.
As árvores representam o renascimento, e é isso que os cidadãos desta região querem hoje. Ou não fosse no Nacquichevão que, segundo uma das lendas, Noé se instalou depois da tempestade.
Fotos: M karzarj / Ulvi Ismayil / Mark Hay / Gregor Samsa / Creative Commons
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