Natureza pode ser a chave para vencer o melanoma resistente aos medicamentos
Investigadores da Queensland University of Technology (QUT), sedeados no Translational Research Institute (TRI) de Brisbane, modificaram os peptídeos da tarântula brasileira e do caranguejo-ferradura japonês e descobriram que podem matar amostras de células de melanoma derivadas de um modelo de cancro em ratos que são resistentes a outras terapias contra o cancro.
O estudo pré-clínico, publicado na revista Pharmacological Research, revelou que os dois peptídeos muito semelhantes não só mataram células de melanoma resistentes, como o cancro foi incapaz de desenvolver resistência aos mesmos.
A última autora do estudo, a Professora Associada da QUT Sónia Henriques, afirma que, embora o estudo fosse preliminar e houvesse muito mais investigação a fazer, os resultados eram empolgantes porque a resistência aos medicamentos no melanoma era um enorme desafio.
“A natureza concebeu estes peptídeos para combater as infeções bacterianas, atacando as membranas celulares das bactérias. Modificámos os péptidos e aplicámo-los às células cancerígenas para que actuem de forma semelhante e ataquem a membrana das células cancerígenas sem afetar as células não cancerígenas”, afirma o Professor Henriques.
“O aspeto mais interessante do nosso estudo é que os péptidos não só matam as células de melanoma altamente proliferativas, como também matam as células dormentes e as que ganharam resistência”, acrescenta.
“E como os peptídeos têm como alvo a membrana celular das células tumorais e as matam através de um mecanismo rápido, as células cancerosas não remodelaram a composição da sua membrana celular nem desenvolveram resistência ao tratamento com peptídeos”, explica.
“Isto é potencialmente significativo porque o principal problema no tratamento de doentes com cancro é que acabam por ganhar resistência à sua terapia atual”, sublinha ainda.
O estudo realizado em modelos in vitro (células cancerígenas em laboratório) e in vivo (ratinhos) representa dez anos de trabalho e abre caminho a novas investigações para tornar os peptídeos mais potentes.
“Queremos desenvolver estes medicamentos não só para atacar a membrana celular, mas também para atravessar a membrana e eliminar alvos para a progressão do cancro”, diz o Professor Henriques.
A primeira autora do estudo, Aurelie Benfield, da QUT, afirma ser inspirador o facto de milhares de anos de evolução na natureza poderem proporcionar vias tão promissoras para melhorar a saúde humana.
“É espantoso porque há tantos péptidos na natureza que nos inspiram, enquanto cientistas, a modificá-los e a torná-los ainda mais potentes e estáveis”, sublinha.
“Estou muito orgulhosa deste trabalho e dos resultados alcançados e, agora que foi publicado, espero que seja o início de um novo e grande futuro para os péptidos terapêuticos”, acrescenta.
A equipa espera que a investigação adicional necessária para melhorar as moléculas demore, pelo menos, mais cinco anos antes de poderem ser iniciados ensaios clínicos em seres humanos, sendo necessária uma série de testes pré-clínicos.
Benfield acredita que o futuro das terapias depende, em última análise, do financiamento. “Se conseguirmos obter financiamento e interesse da indústria, esperamos poder acelerar as coisas muito rapidamente”, conclui.