ONU revela que 811 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentaram fome em 2020
A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou hoje que cerca de 811 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentaram fome em 2020 e “mais de 41 milhões de pessoas estão a um passo de morrer” por esse motivo.
Os dados foram revelados na primeira cimeira mundial dos Sistemas Alimentares, hoje iniciada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, onde se pretendem ações para uma transformação que forneça melhor nutrição e saúde às pessoas, agricultura sustentável, trabalho digno e proteção ambiental.
A ONU alerta que a transformação dos sistemas alimentares é crucial, porque ao mesmo tempo que a fome está a aumentar em todo o mundo, existem outros tipos de malnutrição, como a obesidade, causados por falta de poder económico para “uma dieta saudável”, com uma “ampla gama de impactos negativos na saúde, educação, género e economia”.
O secretário-geral da ONU, António Guterres acrescentou que “dois mil milhões de pessoas no mundo têm excesso de peso ou são obesas”, enquanto “462 milhões estão abaixo do peso” médio para a sua idade e estatura. Dados que não devem suprimir o facto de que um terço dos alimentos são desperdiçados.
Segundo um comunicado hoje divulgado pela ONU, juntaram-se mais de 2.000 ideias ao longo de um ano e meio de pesquisa em todo o mundo, com o foco em “alimentar populações em crescimento de formas que contribuam para a nutrição, saúde e bem-estar das pessoas, restaurem e protejam a natureza, sejam neutras para o clima, adaptadas às circunstâncias locais e proporcionem empregos decentes e economias inclusivas”.
“Relatórios recentes descobriram que os sistemas alimentares são responsáveis por até um terço das emissões de gases de efeito estufa, até 80% da perda de biodiversidade e usam até 70% da água doce”, é o aviso no comunicado.
Os conflitos, desastres ambientais e volatilidade económica contribuem para mais insegurança, malnutrição, pobreza e altos níveis de desigualdade, sublinha a ONU.
António Guterres que a comunidade global precisa de “incrementar ou reforçar sistemas de alimentação e nutrição em casos de emergência nas áreas afetadas por conflitos ou desastres naturais” e precisa de investir “em sistemas de alerta precoce para prevenção da fome”.
Ao longo de todo o processo, acrescentou Guterres, é necessário “fortalecer a resiliência dos sistemas alimentares locais a choques externos, como conflitos, mudanças climáticas e pandemias”.
A cimeira que hoje se iniciou e decorre até sexta-feira, e onde se esperam declarações de líderes de mais de 90 países, quer assim juntar a cooperação dos governos, setor privado, sociedade civil e comunidades locais para sistemas alimentares “que respeitam os direitos humanos, através de Diálogos Nacionais em 148 países”.
A ONU quer também a aposta em “boas práticas”, dando o exemplo de “sistemas alimentares indígenas”, assim como um maior investimento “em ciência e inovação”, com envolvimento de todas as pessoas, especialmente mulheres e jovens, povos indígenas, empresas e produtores.
De acordo com uma declaração de ação, hoje adotada na Cimeira, os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da Agenda 2030 são as bússolas para a transformação que se pretende.
O exemplo é que “os sistemas alimentares têm um papel fundamental a desempenhar para erradicar a pobreza e alcançar o ODS 1” ou “abordar a coexistência de supernutrição e desnutrição será crucial para cumprir os objetivos de saúde do ODS 3”.
“A gestão sustentável da pesca é fundamental para a conservação e uso sustentável dos oceanos e mares e para o cumprimento do ODS 14”, defende a organização, acrescentando que o ajuste dos sistemas alimentares pode contribuir para ritmos de consumo e produção mais sustentáveis, como delineado no objetivo 12.
Além de ir ao encontro dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, a transformação dos sistemas alimentares deverá seguir cinco “áreas de ação”: nutrição para todos; soluções baseadas na natureza; proporcionar meios de subsistência equitativos, trabalho decente e empoderamento das comunidades locais; resiliência às vulnerabilidades e choques e por último, meios de implementação acelerados.