Países Baixos apostam em barcos fluviais elétricos rumo a emissões zero

Países Baixos avançam com nova tecnologia para navios de transporte, movidos a baterias elétricas, com o objetivo de reduzir emissões, e o primeiro barco, que irá assegurar oito horas de carga sem emissões já está em marcha.
O MS Den Bosch Max Groen, nome dado a este tipo de navio, navegará entre os portos neerlandeses de Roterdão e Den Bosch (Bois-le-Duc), utilizando um sistema pioneiro de baterias trocáveis, o primeiro desdobramento comercial desta tecnologia no mundo.
Segundo os seus responsáveis, o projeto pode realmente mudar as regras do jogo para o setor do transporte fluvial, mesmo que o caminho ainda seja longo para o tornar competitivo em termos de custos.
O sistema é simples e rápido: enquanto o navio descarrega a sua carga num dos três locais perto de Roterdão, uma grua retira do barco a bateria descarregada e substitui-a por uma bateria carregada.
“O proprietário do navio, ou o expedidor, não perde tempo com a recarga”, explica à AFPMichael Beemer, o diretor-geral da Zero Emission Services (ZES), que fabrica as baterias.
Chamada de Zespack (“seis pack”), a bateria leva cerca de três horas para ser recarregada e apenas 15 minutos para ser içada por guindaste e colocada no navio, continua Beemer.Com este sistema, não são geradas emissões de CO2, nitrogénio ou partículas para o transporte.
As baterias são carregadas com eletricidade 100% verde, e os transportadores pagam pelo tempo que a bateria está a bordo e pela quantidade de energia utilizada.
Este dispositivo permite evitar cerca de 800 toneladas de CO2 por ano e por navio equipado, segundo Eduard Backer, diretor-geral da empresa de logística Inland Terminals Group (ITG).
Três dos 17 terminais ITG estão atualmente equipados com instalações de troca de baterias, e segundo Backer, três outros serão equipados em breve, à medida que a rede se desenvolve rapidamente.
Esta solução assume uma importância muito particular na Holanda, onde a densidade da população é uma das mais elevadas do mundo e as estradas estão muito congestionadas, especialmente em torno de Roterdão.
Nos Países Baixos, país líder em transporte fluvial de mercadorias ao nível europeu, em 2024, passaram pelas suas vias navegáveis internas 18,5 toneladas de mercadorias por habitante, o que representa quase 17 vezes a média da UE, segundo os dados europeus.
E de cerca de 10.000 embarcações de navegação interna na Europa, aproximadamente metade são neerlandesas, segundo Michael Beemer, que elogia os benefícios ambientais trazidos pelos navios a bateria.
“Temos um ar mais puro, uma água mais limpa, portanto um ambiente de vida mais saudável”, frisou.
Aquele responsável vê um enorme potencial neste sistema, que grandes empresas, como a Heineken, apoiaram.
“O objetivo é ter cerca de oito a dez locais operacionais até ao final de 2026”, realçou, com até 50 navios utilizando o sistema de baterias que podem ser mudadas em pouco tempo.
Agora, Beemer está em negociações com clientes na esperança de convencê-los a tornarem-se ‘pioneiros’ neste setor e, a manter, assim, uma vantagem sobre as regulamentações ambientais mais rigorosas, que limitarão ainda mais as emissões no futuro.
“Precisamos que o mercado adote este sistema para que possamos desenvolvê-lo em maior escala”, afirma Michael Beemer. “A escala é a chave para reduzir os custos e torná-lo mais confiável para os armadores”, prossegue, reconhecendo que a tecnologia ainda tem um longo caminho a percorrer para competir financeiramente com os navios a diesel.
“Não é muito mais caro. Ainda não é competitivo, mas vai tornar-se”, promete.
Um projeto-piloto semelhante foi realizado no rio Yangtze, na China e no Vietname, mas os Países Baixos têm a ambição de se tornarem o líder mundial do setor, aproveitando o seu património marítimo e séculos de experiência da vida e do trabalho na água.
Uma experiência que Michael Beemer não considera como concorrência, mas como um aprendizado mútuo. “Estamos em concorrência para alcançar os objetivos climáticos? Ou queremos alcançar esses objetivos todos juntos?”, questionou.