Pesticidas estão a destruir as vidas sociais dos peixes

Os pesticidas químicos que escorrem para os rios, lagos e mares do mundo estão a tornar os peixes menos sociáveis e a reduzir as interações entre elementos da mesma espécie.
A conclusão é de um estudo publicado recentemente na revista ‘Environmental Pollution’, no qual um grupo de cientistas da Austrália, Suécia e Canadá alerta que, mesmo em concentrações não letais, os pesticidas podem afetar a normal atividade hormonal dos peixes, debilitar as suas funções cerebrais e, por fim, alterar os seus comportamentos.
Em comunicado, Kyle Morrison, investigador da Universidade da Nova Gales do Sul (Austrália) e primeiro autor do artigo, explica que, quando afetados por pesticidas químicos, os peixes passam menos tempo em grupos, tornam-se menos protetores dos seus territórios e fazem menos tentativas para acasalarem. E todas essas transformações podem ter efeitos negativos na saúde dos ecossistemas marinhos.
“Imaginem o oceano sem os vibrantes cardumes de peixes que adoramos, apenas nadadores isolados à deriva”, propõe Morrison. “Silenciosamente, os ecossistemas começam a degradar-se, muito antes de eventos de mortalidade massiva serem notícia”, refere.
A investigação baseou-se na revisão e análise de dados de 37 experiências realizadas em todo o mundo, abrangendo um total de 31 tipos diferentes de pesticidas e os seus efeitos em 11 espécies de peixes. Para todas elas foi possível identificar alterações no comportamento – tornam-se menos sociáveis – devido à exposição a esses químicos.
A equipa avança que pesticidas como o herbicida glifosato, que afeta as funções cerebrais e hormonais dos peixes, é que parece ter os maiores impactos no comportamento social desses animais. De recordar que o uso de glifosato na União Europeia está autorizado, até 15 de dezembro de 2033 e está sujeito a “certas condições e restrições”, com as autoridades europeias a dizerem que, após várias avaliações, “não há atualmente qualquer justificação científica ou legal para ser proibido”.
Os investigadores consideram que é preciso começar a reconhecer que o comportamento dos peixes – ou melhor, as alterações e desvios do que é considerado o padrão normal – é um importante indicador do estado de saúde dos ecossistemas aquáticos, especialmente da presença de pesticidas.
“Em conjunto, autoridades reguladoras e cientistas podem encontrar uma forma de usar os estudos comportamentais para ajudar a informar decisões políticas”, sublinha Morrison. “Isso ajudará a prevenir mortalidade massiva e a detetar cedo os impactos de pesticidas”, acrescenta.