Poderá a inteligência artificial salvar a Grande Barreira de Coral?
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Investigadores australianos estão a conceber um sistema global de monitorização em tempo real para ajudar a salvar os recifes de coral do mundo de um maior declínio, principalmente devido ao branqueamento causado pelo aquecimento global.
Os recifes de coral em todo o mundo estão a morrer a um ritmo alarmante, com 75% dos mesmos a sofrerem stress térmico de nível de branqueamento nos últimos dois anos.
A Grande Barreira de Coral (GBR), considerada Património da Humanidade e a joia da coroa dos recifes de coral em todo o mundo e um dos mais importantes recursos ecológicos e turísticos da Austrália, tem sido dizimada por graves eventos de branqueamento desde 2016, agravados pelos contínuos surtos de estrelas-do-mar coroa-de-espinhos e pelo desenvolvimento costeiro.
Um projeto de colaboração liderado pela Universidade da Austrália do Sul (UniSA), com o contributo de investigadores de Queensland e de Victoria, está a integrar tecnologias de teledeteção com aprendizagem automática, inteligência artificial e Sistemas de Informação Geográfica (SIG) para monitorizar e, espera-se, travar os danos causados aos ecossistemas marinhos mais frágeis do mundo.
Uma plataforma multimodal irá destilar todos os dados de investigação relacionados com os recifes de coral, incluindo vídeos e fotografias subaquáticas, imagens de satélite, ficheiros de texto e leituras de sensores de tempo, num painel central para uma monitorização global em tempo real.
Um único modelo centralizado
O analista de dados e investigador principal da UniSA, Abdullahi Chowdhury, afirma que um único modelo centralizado integrará todos os fatores que afetam os recifes de coral e fornecerá aos cientistas ambientais previsões em tempo real.
“Atualmente, temos modelos separados que analisam dados substanciais sobre a saúde dos recifes – incluindo níveis de branqueamento, incidência de doenças, densidade de corais juvenis e abundância de peixes nos recifes – mas estes conjuntos de dados não estão integrados e existem em silos”, afirma Chowdhury.
“Consequentemente, é difícil ver o ‘panorama geral’ da saúde dos recifes ou efetuar análises em grande escala e em tempo real”, acrescenta.
Os investigadores afirmam que um sistema integrado irá rastrear a gravidade e as tendências do branqueamento ao longo do tempo; monitorizar as populações de estrelas-do-mar coroa-de-espinhos e os riscos de predação; detetar surtos de doenças e níveis de corais juvenis; e avaliar a abundância, diversidade, comprimento e biomassa dos peixes do recife.
“Ao centralizar todos estes dados em tempo real, podemos gerar modelos de previsão que ajudarão os esforços de conservação, permitindo uma intervenção mais rápida”, segundo o candidato a doutoramento da Universidade Central de Queensland, Musfera Jahan, um especialista em dados SIG.
“Os nossos recifes de coral estão a morrer muito rapidamente devido às alterações climáticas – não só na Austrália, mas em todo o mundo – pelo que temos de tomar medidas sérias muito rapidamente”, afirma Musfera Jahan.
Recifes de coral albergam 25% de toda a vida marinha
Os recifes de coral são frequentemente designados como as “florestas tropicais do mar”. Representam apenas 1% da área oceânica mundial, mas albergam 25% de toda a vida marinha.
A tecnologia reunirá conjuntos de dados de organizações como a National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), o Monterey Bay Aquarium Research Institute (MBARI), o Hawaii Undersea Research Laboratory (HURL) e o CSIRO da Austrália.
“O futuro da conservação dos recifes de coral está na intersecção da tecnologia e da colaboração. Esta investigação fornece um roteiro para o aproveitamento destas tecnologias, a fim de garantir a sobrevivência dos recifes de coral para as gerações vindouras”, afirmam os investigadores.
O estudo foi publicado na revista Electronics.