Portugal tem hoje nove reservas naturais após a criação da primeira há 50 anos

A classificação da primeira reserva natural de Portugal, há 50 anos, pôs em marcha um processo de conservação que foi alargado a outras áreas nacionais ambientalmente sensíveis, existindo hoje nove zonas classificadas como reservas naturais no país.
Em março de 1975, a criação da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António marcou o início desse processo, permitindo que o país preservasse áreas que, de outra forma, teriam sido afetadas negativamente pelas atividades humanas, explicou João Alves, do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), entidade responsável pela gestão das reservas naturais nacionais.
“O balanço é claramente positivo, uma vez que, se estas parcelas do território – bem como outras que tiveram outra classificação [como Parque Natural] – não tivessem sido classificadas e protegidas, com certeza que esses territórios estariam bastante alterados e com certeza para pior”, afirmou à Lusa o biólogo, que tem 43 anos de experiência e desempenhou cargos de direção na área.
João Alves observou que, depois da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António (1975), foram também criadas as reservas naturais do Estuário do Tejo (1976), de São Jacinto, do Paul do Boquilobo, do Estuário do Sado e das Berlengas (entre 1980 e 1981), da Serra da Malcata (1981), visando a salvação do lince ibérico, do Paul de Arzila (1988) e das Lagoas de Santo André e da Sancha (2000).
“As reservas naturais foram classificadas fundamentalmente para proteger sistemas ecológicos sensíveis e, essencialmente, sistemas aquáticos ou de transição, como são o caso dos estuários”, explicou o responsável.
Esta classificação permitiu fazer o zonamento cartográfico, valorizar e hierarquizar as várias parcelas do território e dar mais proteção às que são “mais sensíveis e mais valiosas”, mas também criar um “regulamento associado que determina o que é que pode ser feito, onde e como pode ser feito”, observou.
João Alves frisou que “algumas utilizações” desses territórios “podem e devem ser mantidas, com ligeiras alterações, porque muitas vezes são o fator que permitiu que esses territórios tivessem aquelas características”, como acontece com a produção de sal no sapal de Castro Marim.
Estes mecanismos permitiram também, no caso do Estuário do Tejo, intervir junto de indústrias, como a química ou a de metalurgia pesada, para prevenir o despejo de efluentes contaminados no ecossistema, através de relocalizações ou da implementação de sistemas de tratamento que evitem descargas lesivas para os ecossistemas.
“À medida que foi sendo melhorada a qualidade das águas, passou a ser visitado volta e meia por golfinhos”, exemplificou, comparando o Estuário do Tejo com o do Sado, onde a presença da indústria era menor e se “manteve uma população de [golfinhos] roazes corvineiros”, enquanto a do Tejo só reapareceu quando a envolvente melhorou.
João Alves destacou também a importância que este processo teve para a sensibilização ambiental de todos os intervenientes de um território, incluindo os próprios municípios, e contou que a primeira reserva natural foi criada como uma “medida urgente” para “impedir que os sapais do lado português do Estuário do Guadiana continuassem a ser utilizados como depósito, como vazador de entulhos, restos de obras e lixo”, até pelas autarquias.
“Com a classificação da reserva, isto parou e fez-se um trabalho de recuperação, de limpeza, de retirada daquilo que era possível, depois, a natureza encarregou-se, também, de recuperar o resto e, a partir daí, a reserva manteve-se”, destacou, frisando que as autarquias perceberam depois “a mais-valia que era para os dois concelhos terem uma reserva natural”.
Atualmente, são eles “os guardiães da reserva”, através da sua presença na comissão de cogestão da área protegida, com um “papel determinante na gestão e na melhoria das condições de visitação” do espaço, concluiu João Alves.