Preço do cacau deverá manter-se em queda após ter mais do que duplicado em 2024



O preço do cacau deverá manter-se em queda este ano, após ter mais do que duplicado em 2024, colocando desafios estruturais ao setor, apontaram os analistas ouvidos pela Lusa, quando se celebra o dia mundial do cacau.

“Existe a expectativa de uma queda moderada dos preços ao longo de 2025, à medida que a produção recupera parcialmente, impulsionada pelo incentivo dos preços elevados, bem como pelo abrandamento da procura, precisamente devido ao encarecimento da matéria-prima”, referiu o economista sénior do Banco Carregosa Paulo Monteiro Rosa, em resposta à Lusa.

Sem novos choques climáticos ou políticos, o preço do cacau poderá recuar para entre 6.000 e 7.000 dólares (entre 5.545 e 6.470 euros) por tonelada até ao final de 2025, segundo as estimativas dos analistas da Bloomberg e da Reuters, citadas pelo banco.

Em 2024, o preço do cacau registou subidas acima de 160%, sendo que no ano anterior o setor já enfrentava desafios perante a quebra nas colheitas, que fizeram os preços disparar para 4.000 dólares (cerca de 3.697 euros) por tonelada.

Para esta evolução contribuíram fatores como as fracas colheitas na Costa do Marfim e do Gana, que são responsáveis por cerca de 60% da produção mundial, seca severa e doenças nas plantações, o impacto das alterações climáticas e um menor investimento agrícola.

A corretora financeira xtb disse à Lusa que só em fevereiro, os preços caíram mais de 31% relativamente aos máximos históricos.

“As projeções para 2024/2025 apontam para uma produção na Costa do Marfim de cerca de dois milhões de toneladas, um aumento considerável em relação a 2023/2024, que tinha sido 1.850, embora as condições meteorológicas nos próximos meses suscitem algumas preocupações”, destacou.

Em março, verificaram-se novas flutuações e os preços atingiram o seu nível mais baixo desde de março de 2024.

O analista da ActivTrades Henrique Valente sublinhou que os fatores estruturais continuam a pesar sobre a oferta e que o preço do cacau continua a ser incerto face aos fenómenos que têm afetado a produção.

“A volatilidade deve persistir ao longo de 2025. Se a produção não recuperar de forma significativa, os preços do cacau devem continuar elevados”, defendeu.

Contactada pela Lusa, a Imperial, dona de marcas como a Regina e Pantagruel, assinalou que o aumento do preço do cacau é um “desafio estrutural para todo o setor”.

Contudo, até ao momento, a Imperial tem tentado evitar repercutir o aumento dos custos no preço para o consumidor final.

“Com a aproximação da Páscoa, uma das campanhas mais importantes para o setor, o nosso compromisso mantém-se o de sempre: garantir a produção e entrega de chocolate de elevada qualidade ao consumidor português. Enquanto empresa chocolateira que somos, continuamos, por isso, a apostar numa estratégia orientada para a inovação e qualidade como pilares únicos, procurando sempre soluções que nos permitam manter o padrão elevado pelo qual somos reconhecidos”, concluiu.

Por sua vez, a Arcádia disse que o aumento do custo da matéria-prima teve um impacto direto na sua estrutura de produção e que tem feito um esforço para absorver uma parte significativa desse acréscimo.

Ainda assim, foi necessário proceder a ajustes e, em 2024, a Arcádia aumentou os preços, em média, cerca de 10%. Já este ano subiram, aproximadamente, 7%.

“Estes ajustamentos são inevitáveis num cenário de forte pressão internacional, mas temos procurado manter o equilíbrio entre sustentabilidade e acessibilidade”, afirmou.






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