Produtores moçambicanos destacam importância da cultura de café para a biodiversidade



Produtores de café defenderam a importância desta cultura na conservação da biodiversidade em Moçambique, assinalando que a produção tem sido usada para a restauração de ecossistemas destruídos.

A relação entre a cultura de café e a conservação da biodiversidade foi debatida no painel “Cafés de Moçambique e Desenvolvimento da Economia Local”, na primeira edição do Festival do Café, que decorre em Maputo.

“As mesmas mulheres que não queriam saber nada de plantio e restauração de árvores são hoje amigas da conservação, depois de terem sido envolvidas na produção de café”, disse Pedro Muagura, do Parque Nacional da Gorongosa (PNG), um santuário de fauna e flora do centro de Moçambique que também produz e exporta aquela cultura.

Muagura afirmou que a aposta no aproveitamento do potencial agrícola do território ocupado pelo PNG tem resultado igualmente no reflorestamento e conservação da biodiversidade dos campos.

“A área estava desertificada, havia ali um cenário de desmatação provocada pelas várias guerras que aconteceram em Gorongosa”, declarou, referindo-se aos conflitos armados entre as forças governamentais e a antiga guerrilha da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), hoje principal partido da oposição.

Pedro Muagura defendeu a produção de café e de alimentos, como milho, para que as culturas de rendimento não resultem na marginalização da produção alimentar.

Daniel Razão, presidente da Associação Agro-Cintrópica de Mupandeia, na província de Manica, centro de Moçambique, também realçou a importância do cultivo de café na preservação da biodiversidade.

“Os pequenos produtores já sabem que para aproveitarem melhorar uma cultura de rendimento como o café, precisam de outro tipo de árvores ou floresta, que dão sombra àquela cultura”, enfatizou Razão.

O café, prosseguiu, desenvolve-se melhor quando está protegido pela sombra e isso é uma vantagem para a proteção da biodiversidade.

Aquele produtor defendeu “a co-socialização” entre culturas de rendimento e alimentares nas comunidades, para que os camponeses não tenham défice de comida.

“A cultura de café tem um ciclo relativamente mais longo e os camponeses não podem ficar três anos sem se alimentar”, destacou Daniel Razão.

Genaro Lopez, presidente da Associação Moçambicana de Café (Amocafé), que congrega empresas do setor, afirmou que a preservação da biodiversidade deve nortear a atividade empresarial deste ramo.

“Através da nossa atividade, queremos também ajudar a combater a desflorestação, estimulando uma transformação de perspetiva na população local, para que se torne guardiã do seu próprio ecossistema”, frisou Lopez.

Falando durante o Festival do Café, o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Moçambique, Celso Correia, disse hoje que o país tem condições para ser “um ator” no mercado internacional de café, defendendo a necessidade de mais investigação e investimentos naquela cultura agrícola.

“O café moçambicano é orgânico, respondendo à demanda do mercado internacional, onde o consumidor é cada vez mais interessado por produtos orgânicos, e constituindo uma oportunidade para o país entrar como um ator” no mercado internacional, afirmou.

Moçambique está bem posicionado na classificação internacional, uma vez que o café produzido no país está qualificado na “classe de cafés especiais”, prosseguiu.

Esse patamar, continuou, pode colocar o produto moçambicano na “classe de cafés raros”.

O ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural apontou a aposta na importância da cultura de café na conservação da biodiversidade como outra vantagem de Moçambique no mercado global, uma vez que esta abordagem tem merecido uma grande atenção de organizações internacionais com influência no mercado do café.





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