Programa de Observação contradiz estudo internacional sobre pesca do atum nos Açores



Dados recolhidos pelo Programa de Observação das Pescas dos Açores (POPA) contradizem o estudo da Global Fishing Watch sobre a pesca de atum e mostram que os atuneiros açorianos utilizam bancos de pesca que serão transformados em áreas protegidas.

“É absolutamente visível o quão, áreas como o banco Princesa Alice e os ilhéus das Formigas, são importantes para a pesca do atum nos Açores. É inegável! Os dados demonstram isso!”, disse à agência Lusa Miguel Machete, coordenador do POPA, que é gerido pelo Instituto do Mar da Universidade dos Açores.

Segundo o investigador, os dados científicos registados e analisados por este programa, criado em 1998, dirigido sobretudo à pesca de atum com salto e vara, são “rigorosos” e “únicos” no mundo, sendo recolhidos por “observadores especializados” que andam embarcados em vários atuneiros da região.

“Monitorizamos essa pescaria há 28 anos. Temos milhões de dados. É a maior base de dados de uma pescaria de salto e vara, provavelmente, que existe no mundo”, disse Miguel Machete, realçando que o programa é financiado pelo Governo dos Açores e tem como parceiros a Federação de Pescas, a Earth Island Institute e, ainda, a empresa de lotas Lotaçor e as direções regionais das Pescas e das Políticas do Mar.

O coordenador do POPA diz não compreender, por isso, por que razão não foram pedidos dados deste programa para comprovar se os atuneiros dos Açores pescam ou não nos locais definidos pelo executivo regional para a criação de novas áreas marinhas protegidas, e onde a captura de atum passará a ser proibida ou condicionada.

“É estranho que em todo este processo de avaliação, [tendo em conta] o programa de observação das pescas dos Açores, que tem milhões de dados, que tem informação em quantidade e em qualidade, não tenham sido solicitados esses dados para fazer um estudo sólido, fidedigno e baseado em dados reais”, lamentou Miguel Machete.

O investigador referia-se ao estudo elaborado pela associação não-governamental Global Fishing Watch, revelado esta semana pela Fundação Blue Azores, segundo o qual “apenas 1% dos atuneiros dos Açores” utilizava as zonas agora classificadas como áreas marinhas protegidas, para a captura de atum.

Esse estudo foi realizado com base nos dados recolhidos pelo sistema AIS, que regista o movimento e o posicionamento dos barcos de pesca, via satélite, mas que, na opinião de Miguel Machete, “não são rigorosos”, porque os barcos mais pequenos “não são obrigados” a ter esse sistema a bordo.

“Além disso, quando um barco está parado, como é que eles sabem se está a pescar ou não? Como é que se pode inferir sobre o esforço de pesca?”, questiona o coordenador do POPA, para concluir que o sistema AIS “não é, de todo, uma fonte de informação fidedigna”.

Opinião semelhante tem Paulo Ávila, presidente da Associação de Produtores de Atum e Similares dos Açores (APASA), que desvaloriza o estudo da Global Fishing Watch, acrescentando que não é possível chegar a qualquer conclusão com base apenas nos dados de satélite recolhidos pelo sistema AIS.

“Esse estudo, a mim, não me diz nada. Só me leva a acreditar que não foi procurado o verdadeiro estudo, que é o programa POPA, da Universidade dos Açores, que melhor do que ninguém, tem os melhores dados”, insistiu o armador.

Paulo Ávila garante que a APASA não é contra a criação de áreas marinhas protegidas, desde que a pesca de salto e vara, considerada “seletiva” e “amiga” do ambiente, possa ser utilizada nesses locais.

A pesca de atum com salto e vara é uma arte antiga que é praticada nos Açores, há mais de 70 anos, durante a qual os pescadores atraem o atum (patudo e bonito) para a borda dos barcos, lançando chicharro e sardinha viva, para depois pescarem, um a um, o atum, com recurso a uma vara com isco e anzol.

A frota atuneira é constituída por 36 embarcações (uma dezena delas são da Madeira), que e têm dimensões que variam entre os 14 e os 30 metros de comprimento.






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