Proteger habitats pode não chegar para conservar a biodiversidade
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Uma equipa internacional de cientistas alerta que proteger habitats poderá não ser suficiente para travar ou reverter a perda de biodiversidade, especialmente de espécies ameaçadas de mamíferos.
Embora cubram apenas um terço da superfície da Terra, as florestas tropicais albergam uma enorme diversidade de vida, mais de 60% de todas as espécies conhecidas hoje. E contêm a maior concentração de espécies ameaçadas em todo o mundo.
As pressões causadas pelas atividades humanas, especialmente pelo avanço da agricultura, que transforma florestas em terras cultiváveis, tem agravado a perda de biodiversidade nessas regiões. Para tentar travar esse declínio, os governos têm recorrido cada vez mais à figura das áreas protegidas como uma forma de estancar as perdas de biodiversidade.
Mas, num artigo publicado recentemente na revista ‘PLOS Biology’, cientistas argumentam que não isso poderá não ser suficiente.
O trabalho teve por base mais de 550 mil imagens de mamíferos selvagens captadas por mais de dois mil equipamentos de foto-armadilhagem colocados em 37 florestas no sudeste asiático, em África e na América do Sul. No total, foi registada a presença de 239 espécies de mamíferos, que foi contraposta aos níveis de presença humana na área envolvente.
A equipa concluiu que quanto mais pessoas havia perto das áreas protegidas, menos mamíferos havia na área. Como tal, argumentam que a forte presença humana é responsável por um efeito de extinção local, especialmente de espécies mais sensíveis a perturbações causadas pelos humanos.
A desflorestação e a conversão de terras destroem habitats e são uma ameaça, sim, mas também a caça de subsistência e a simples presença humana, com todas as inquietações que isso traz para a vida selvagem, também o são, tornando mais difícil que os mamíferos sobrevivam mesmo dentro de áreas protegidas.
Modelos criados pelos investigadores calculam que por cada 16 humanos a viverem numa área de um quilómetro quadrado dos limites de uma área protegida, o número de espécies de mamíferos pode cair até 1%.
Os autores deste trabalho acreditam que a proteção dos mamíferos ameaçados não deve passar apenas pela proteção legal das florestas, mas também pela implementação de medidas que permitam atenuar os efeitos nocivos causados pela presença humana, por exemplo, com a criação de “zonas tampão” entre a área protegida e a zona ocupada pelos humanos, ou pela promoção de melhores condições de vidas das comunidades locais para que haja menos necessidade de caça e de desflorestação.