Psicólogos acreditam ter encontrado a melhor forma de combater a “apatia climática”

As alterações climáticas são uma das maiores crises de escala planetária com que a humanidade e muitas outras espécies agora se debatem. Sabe-se que é preciso mobilizar a sociedade para exigir e implementar ações que permitam combater essa ameaça, mas o aumento muitas vezes impercetível das temperaturas pode levar ao que os especialistas chamam de “apatia climática”.
Esse estado carateriza-se por poder haver, de facto, consciência de que o problema existe, mas o seu avanço gradual e lento faz com que não seja imediatamente apreendido pelas pessoas, esbatendo a sua urgência e gravidade.
Uma equipa de psicólogos da Universidade da Califórnia em Los Angeles (Estados Unidos da América) considera que comunicar às pessoas dados contínuos sobre o aumento da temperatura numa cidade, dá-lhes uma “vaga ideia” da mudança, mas a melhor forma de chegar até elas, e de mostrar os reais impactos da crise climática, é comunicar se, por exemplo, num dado inverno o lago da cidade congelou, como no passado, ou não.
“As pessoas estão a adaptar-se a uma velocidade perturbadora a condições ambientais cada vez piores, como várias épocas de incêndios por ano”, aponta, em comunicado, Rachit Dubey, um dos principais autores do artigo publicado este mês na revista ‘Nature Human Behaviour’.
Para o especialista em comunicação, apresentar dados e informações sobre o avanço das alterações climáticas de forma mais “crua” e impactante, de forma “binária” como dizem (antes era assim, agora é assim), é a melhor forma de quebrar a apatia climática e de chegar às pessoas. Segundo Dubey, os resultados do estudo mostram que a apresentação de dados graduais sobre o aumento da temperatura faz reduzir a perceção dos riscos da crise climática e pode fazer com que as pessoas se preocupem menos com ela.
“Durante anos, presumimos que se o clima piorasse o suficiente as pessoas agiriam”, afirma o investigador, acrescentando, contudo, que o que se vê agora é que as pessoas estão constantemente a mudar as suas perceções, adaptando-se a condições ambientais cada vez piores e “encaixando-as” nas suas conceções de um “novo normal”.
Grace Liu, outra das autoras do estudo, salienta que é também eficaz apelar ao lado emocional das pessoas, mostrando, por exemplo, como o aumento da temperatura tem mudado a vida na aldeia ou na cidade em que vivem. Dessa forma, explica, é possível trazer os dados sobre o aumento gradual das temperaturas, que podem por vezes não ser facilmente compreendidos, para o plano da realidade concreta e familiar.
“Não é apenas invernos mais quentes. É também a perda do hóquei no gelo e Natais com neve”, refere a investigadora, e “não é apenas verões mais quentes”, mas também a perda de atividades ao ar livre devido às altas temperaturas.