Remover os chifres aos rinocerontes reduz caça furtiva em quase 80% na África do Sul

A remoção dos chifres dos rinocerontes reduz significativamente a caça furtiva de que esse grupo de animais é alvo, segundo um novo estudo, mas não é uma solução infalível.
Os chifres dos rinocerontes, formados por queratina, tal como as nossas unhas, são comercializados nos mercados negros e usados em práticas de medicina tradicional na Ásia. Apesar de décadas de esforços de conservação, a caça furtiva continua a pressionar fortemente as populações das cincos espécies de rinocerontes que ainda vivem.
Retirar os chifres aos rinocerontes é visto como uma forma de eliminar ou reduzir a atratividade desses grandes mamíferos para os caçadores furtivos e, dessa forma, tentar atenuar as perdas de animais.

Uma investigação realizada no nordeste da África do Sul, numa região que inclui o Parque Nacional Kruger e alberga cerca de um quarto de todos os rinocerontes do continente africano, os cientistas descobriram que a remoção dos chifres reduziu a caça furtiva em 78% entre 2017 e 2023.
Num artigo publicado recentemente na revista ‘Science’, os investigadores sugerem que medidas mais tradicionais de combate à caça furtiva para proteger os rinocerontes, como patrulhas, vedações e câmaras de vigilância, não parecem ser capazes de reduções significativas na perda de animais. Contudo, reconhecem que não são totalmente ineficazes, pois através delas é possível detetar um grande número de caçadores furtivos, com mais de 700 detenções entre 2017 e 2023.
Ainda assim, dizem que a remoção dos chifres consegue melhores resultados por uma pequena fração – cerca de 1,2% – dos milhões de dólares que todos os anos são investidos nessas medidas convencionais.
Apesar disso, os cientistas admitem que a remoção dos chifres, embora possa poupar as vidas de alguns rinocerontes, pode levar os caçadores furtivos a exercerem uma maior pressão sobre os animais noutras áreas que ainda os tenham.
A remoção também não deve ser considerada uma solução mágica, uma vez que o animal retém ainda uma parte do chifre, a sua base, pela qual alguns caçadores furtivos estão dispostos a matar os animais para a obterem.
Como se não bastasse, sistemas judiciais frágeis e ineficazes não permitem que caçadores furtivos detidos sejam efetivamente punidos, com Timothy Kuiper, primeiro autor do artigo, a dizer que na área de estudo foram detetados vários casos de reincidência.
Para a equipa, os resultados da investigação devem, acima de tudo, promover a reflexão sobre as estratégias de conservação dos rinocerontes em África e a adaptação e reforço do combate aos crimes contra a vida selvagem.
Embora considerada uma forma eficaz de reduzir as mortes de rinocerontes, a remoção dos chifres não é uma abordagem consensual ou isenta de problemas éticos. Em junho de 2023, um outro estudo publicado na ‘PNAS’ revelava que a remoção dos chifres causava alterações no comportamento dos rinocerontes-negros (Diceros bicornis), tornando-os mais tímidos e propensos a ocuparem territórios de menores dimensões.