Subida do nível do mar ameaça aves limícolas migratórias
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A subida do nível do mar está a reduzir a disponibilidade de habitat de aves limícolas migratórias no litoral da Amazónia, revela um novo estudo do MARE. A investigação alerta para a transformação gradual das planícies de maré que servem de áreas de alimentação para as aves limícolas durante as suas longas migrações. Este fenómeno pode estar em curso em várias regiões do mundo, colocando em risco um elevado número de espécies de aves dependentes de zonas húmidas costeiras.
Segundo a mesma fonte, nem mesmo regiões remotas e prístinas, como o litoral da Amazónia, estão a salvo do impacto humano. Liderado pelo investigador do MARE Carlos David Santos, um novo estudo publicado na revista científica Environmental Research Letters revela que a subida do nível do mar está a transformar profundamente as zonas húmidas costeiras da Amazónia brasileira, reduzindo as áreas de alimentação das aves limícolas migratórias. Estas aves, que viajam entre a América do Norte e a América do Sul, dependem das extensas planícies de maré para se alimentarem ao longo das suas rotas.
Os autores do estudo descobriram que as planícies de maré estão a ser gradualmente ocupadas por áreas resultantes de transgressão marinha recente. A transgressão marinha é um fenómeno provocado pela subida do nível médio do mar que leva à migração das zonas húmidas costeiras para o interior.
As planícies de maré que resultam da transgressão marinha têm sedimentos demasiado compactos para serem colonizadas por animais invertebrados que servem de alimento às aves limícolas. A equipa de cientistas, composta por investigadores de Portugal e Brasil, utilizou imagens de satélite para mapear a distribuição das planícies de maré ao longo de 40 anos e realizou levantamentos aéreos para contar as aves em 630 km do litoral da Amazónia.
Os resultados mostram que as aves evitam as planícies de maré resultantes de transgressão marinha, onde a disponibilidade de presas – como pequenos crustáceos – é significativamente menor. O maçarico-rasteirinho (Calidris pusilla), a espécie dominante na região, apresentou densidades dez vezes inferiores nessas áreas do que nas planícies de maré mais antigas, o que indica um impacto direto na sua alimentação.
“Embora a migração das zonas húmidas para o interior seja uma adaptação positiva à subida do nível do mar, as planícies de maré geradas por transgressão marinha não fornecem as condições necessárias à alimentação das aves limícolas, pelo menos no espaço de quatro décadas”, explica Carlos David Santos, também investigador do Laboratório Associado ARNET e do Max Planck Institute, e professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa | NOVA FCT.
Acrescenta ainda que a subida do nível do mar é um fenómeno global e que este tipo de perda de habitat pode estar em curso em várias regiões do mundo, colocando em risco muitas espécies de aves aquáticas dependentes de zonas húmidas costeiras.