Substâncias presentes nos microplásticos prejudicam a tiroide e o desenvolvimento das crianças

A exposição aos ftalatos, substâncias presentes em plastificantes e em microplásticos, constitui um perigo para o normal funcionamento da tiroide e um risco para o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
O alerta é deixado por um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), publicado no ‘European Journal of Pediatrics’, e dirige-se sobretudo aos médicos especialistas em Pediatria e às autoridades de saúde.
“Os pediatras deverão desempenhar um papel crucial ao educar os pais sobre a exposição aos ftalatos e sugerir medidas preventivas, como uso de vidro ou aço inoxidável para armazenar alimentos, e evitar aquecer comida em recipientes plásticos”, apela Maria Augusta Vieira Coelho, professora e investigadora da FMUP, citada em nota publicada no portal da Universidade do Porto.
A autora do estudo defende outras medidas, como “triagens regulares da função da tiroide em crianças expostas a altos níveis de ftalatos” e “regulamentações mais rigorosas sobre o uso de ftalatos em produtos infantis”.
Maria Augusta Vieira Coelho explica que “os ftalatos são plastificantes amplamente utilizados na indústria dos plásticos, sobretudo para amolecer o plástico de cloreto de polivinil (PVC) numa ampla gama de bens de consumo, incluindo embalagens de alimentos e vestuário”.
Os ftalatos são também usados em produtos de cuidados pessoais, como sabonetes, shampoos, sprays para o cabelo, perfumes e vernizes para as unhas, e em vários brinquedos infantis, incluindo lápis de cera, insufláveis, massa de modelar e tintas. Estas substâncias podem entrar no organismo quer por ingestão, quer por absorção cutânea, quer por inalação.
Neste trabalho, Maria Augusta Vieira Coelho e Arminda Maia, primeira autora, analisaram dados de mais de 5.600 crianças e adolescentes de vários países, e concluem que há “evidências suficientes” para concluir que os ftalatos afetam o funcionamento da glândula tiroide.
Um risco para o neurodesenvolvimento
Além dos riscos no que diz respeito às alterações hormonais e à saúde reprodutiva, o estudo salienta ainda os potenciais riscos dos ftalatos para o neurodesenvolvimento das crianças.
“Estes resultados realçam a importância de minimizar o contacto com plastificantes e microplásticos no ambiente, garantindo a segurança dos produtos alimentares e de objetos como brinquedos para a saúde de crianças e adolescentes”, destaca Maria Augusta Vieira Coelho.
De acordo com a especialista, a União Europeia tem tomado medidas para reduzir a exposição dos cidadãos aos ftalatos conhecidos por causarem riscos à saúde. No entanto, “fora da União Europeia, não são regulamentados da mesma forma devido às suas diferentes aplicações. Assim, produtos contendo esses ftalatos ainda podem ser encontrados no mercado da UE”.
Atualmente, “vários ftalatos (DEHP, BBZP, DiBP e DNBP) não podem ser utilizados na UE sem autorização para usos específicos. O DEHP, DNBP, DIBP e BBZP estão proibidos em todos os brinquedos e artigos de puericultura, enquanto o DINP, DIDP e DNOP estão proibidos em brinquedos e artigos de puericultura que possam ser colocados na boca”.
A UE estabeleceu um limite para a quantidade de BPA que pode migrar de brinquedos para crianças até três anos e em brinquedos destinados a serem colocados na boca. O uso de ftalatos classificados como tóxicos para a reprodução é proibido em cosméticos. A UE está ainda a definir limites legais para a concentração de certos ftalatos (DEHP, BBZP e DNBP) em materiais em contacto com alimentos.