Tecnologias de Informação: Solução ou problema para os desafios climáticos?
De acordo com o com o Relatório de Desempenho de Sustentabilidade Ambiental 2021/2022 da Capgemini, as tecnologias de informação (TI) são responsáveis por cerca de 3% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2) – mais do que Espanha, Itália, França e Portugal juntos. Segundo um estudo da Boston Consulting Group, ‘Putting Sustainability at the Top of the Telco Agenda’, de 2021, a indústria poderá vir a ser responsável por até 14% das emissões mundiais de CO2 até 2040 “se não incluirmos os prin- cípios que sustentam a sustentabilidade ambiental em todo o ciclo de vida das TI, desde a sua génese, ao seu uso e monitorização”, sublinha Cristina Castanheira Rodrigues, Administradora-Delegada da Capgemini Portugal, à Green Savers.
A responsável explica que, depois de 2020, o consumo energético “disparou devido ao trabalho remoto, fazendo com que o setor das TI passasse a ser responsável por entre 3% a 4% das emissões globais de CO2, o que significa cerca do dobro do nível do setor da aviação,” e que a adoção de TI sustentáveis “é fulcral para a sociedade alcançar os seus objetivos ambientais e económicos de médio/longo prazo”.
Sofla Vaz Pires, Diretora Executiva de Marketing & Operações da Microsoft Portugal, partilha as mesmas preocupações e diz à Green Savers que os últimos dados de gases com efeito de estufa e consumo de combustíveis fósseis “têm sido consistente- mente alarmantes e, se não tomarmos medidas urgentes, iremos enfrentar consequências ainda mais graves”, enquanto fonte oficial da Google considera que estamos num “ponto crítico de in- flexão em relação ao abastecimento de energia”.
E porquê? Porque os consumidores “continuam a enfrentar preços eleva- dos”, a rede europeia “está sob pressão” e, “apesar de termos visto um acréscimo nas fontes de energia verde, muitas tecnologias sustentáveis ainda não estão disponíveis em escala”, sublinha a multinacional tecnológica.
Além disso, acrescenta, “temos ou- vido falar muito sobre a pegada de carbono do setor tecnológico e a energia necessária para operar data centers”. No entanto, continua, muitas destas estimativas “não são precisas”. Por exemplo, explica, de acordo com a AIE, os dados do streaming de vídeo “estão sobrestimados até 90 vezes”. Em França, onde cerca de 90% da eletricidade vem de fontes livres de carbono, as emissões de uma hora de streaming num PC HD e recorrendo ao wi-fi “estão estima- das em cerca de 2gCO2e – metade da quantidade para fazer ferver uma chaleira”. A Google alerta que informações “imprecisas sobre o impacto ambiental das tecnologias digitais dificultam o dimensionamento de tecnologias que são essenciais para enfrentar as mudanças climáticas”.
Já Rui Paulo Rocha, docente da cadeira ‘Internet das Coisas e Robótica para a Sustentabilidade’ na Universidade de Coimbra, considera que, em- bora a Internet of Things (IoT) e a Robótica contribuam para estas emissões, “o maior contributo será certamente proveniente de outros equipamentos eletrónicos de uso geral cuja utilização se tem massificado a nível mundial nas últimas décadas, nomeadamente computadores pessoais, telemóveis e tablets, que consomem energia elétrica e contribuem indiretamente para as emissões de CO2, porque parte da energia elétrica que consomem ainda tem origem nos combustíveis fósseis”.
“Aquela massificação”, acrescenta o professor, “tem implicado a montante a instalação de infraestruturas de redes de computadores (pontos de acesso, roteadores, servidores) e grandes centros de armazenamento e processamento de dados (cloud service providers) que constituem a Internet atual e cujo im- pacto é certamente uma fatia dominante no resultado a que se refere o relatório [Relatório de Desempenho de Sustentabilidade Ambiental 2021/2022 da Capgemini] devido ao seu fator de escala e inerente elevado consumo energético”.
Para Portugal ainda não há dados concretos deste setor, mas Cristina Castanheira Rodrigues acredita que “estará muito alinhado com a tendência mundial”. Segundo a responsável, “há uma grande tendência de transformação digital, com a migração para a Cloud, por exemplo”, embora “ainda não nos níveis internacionais”. E, por isso, reforça, “muitas destas mudanças, embora impulsionadas pelo setor empresarial, precisam de forma crítica e urgente de regulamentação que nos conduza para caminhos mais ‘verdes’ e ambiental- mente corretos”.
COVID-19 FOI DETERMINANTE PARA SUBIDA DA PEGADA DE CARBONO DO SETOR TECNOLÓGICO
A verdade é que esta pegada está atual- mente a crescer e, para a Administradora-Delegada da Capgemini Portugal, um dos fatores determinantes é, “sem dúvida, o aumento do trabalho remoto”. Mas há mais. Com a Covid-19, explica, muitas empresas foram forçadas a acelerar a sua transformação digital para continuar a operar e a responder às necessidades dos seus clientes. “Isso aumentou a procura por serviços e soluções de TI, como computação na cloud, cibersegurança e software de colaboração para comunicarem com clientes e colabora- dores”, salienta. Segundo a responsável, o aumento da adoção de tecnologias emergentes (inteligência artificial, au- tomação, IoT e blockchain), do comércio eletrónico, da conectividade e o investi- mento em tecnologia também contribuíram para o crescimento da procura de serviços, soluções ou profissionais de TI. Segundo Niklas Sundberg, vice-presidente sénior e CIO do conglomerado sueco Assa Abloy, citado pela ‘Computerworld’, o lixo eletrónico “tornou-se no maior fluxo de resíduos do mundo, com 57 milhões de toneladas geradas todos os anos”, e acrescenta que “só os centros de dados estão ao nível da indústria aeronáutica em termos de emissão de carbono” e que o hardware informático requer minerais de terras raras que são finitos.
Para a Cristina Castanheira Rodrigues, à velocidade a que são lançados novos produtos, “tem de existir uma preocupação maior com o descarte dos artigos, considerados obsoletos” e que, para minimizar o impacto do lixo eletrónico, “há várias medidas que estão a ser tomadas em todo o mundo”, incluindo a reciclagem, reutilização, responsabilidade dos fabricantes e leis e regulamentos. Mas afinal qual o impacto positivo das tecnologias em muitas questões ambientais? A Administradora-Delegada da Capgemini Portugal explica que as TI têm um impacto positivo em muitas questões ambientais, “podendo contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e para a redução dos impactes ambientais como um todo”. Segundo a responsável, algumas das áreas onde as tecnologias têm um impacto positivo incluem as energias renováveis (como painéis solares e turbinas eólicas) que “ajudam a reduzir a dependência de combustíveis fósseis, uma das principais fontes de emissões de gases com efeito de estufa”. No entanto, alerta, “é preciso ter cuidado porque também estas, quando não devidamente pensadas e aplicadas, podem ter impactes muito negativos nos ecossistemas”.
Além das renováveis, a responsável destaca as tecnologias de eficiência energética (como sensores inteligentes e sistemas de automação), que “ajudam a reduzir o consumo de energia, diminuindo os custos e as emissões de gases com efeito de estufa” e a gestão de resíduos. Para Cristina, as tecnologias de gestão de resíduos “ajudam a reduzir o desperdício e a poluição do meio ambiente”, embora reconheça que “também aqui é preciso atuar na fonte e não no resultado”, ou seja, “é necessário reduzir o número de resíduos criados e até mesmo antes: na reformulação das embalagens para que o seu descarte já seja mais facilitado e amigo do ambiente”.
A administradora-Delegada sublinha ainda a monitorização ambiental, já que estas tecnologias, como sensores de qualidade do ar e sistemas de alerta precoce para desastres naturais, “ajudam a proteger a saúde pública e a reduzir os danos ambientais”, e a agricultura sustentável, onde tecnologias, como a agricultura de precisão, “ajudam a reduzir o consumo de água e a minimizar o uso de produtos químicos prejudiciais ao meio ambiente”. Mas, alerta uma vez mais, “não devemos apenas olhar para o fim desta cadeia”. Com chuvas cada vez menos frequentes resultando em cenários de seca extrema, para além do consumo racional, “é preciso atuar na sensibilização de pessoas que continuam a consumir sem qualquer consciência sobre a redução de caudais”. Por último, a responsável destaca a mobilidade sustentável, onde as tecnologias, como veículos elétricos e sistemas de transporte público, “ajudam a reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e melhorar a qualidade do ar nas cidades”.
A administradora-Delegada não tem dúvidas: a mudança para uma economia de baixo carbono “depende de inovações tecnológicas, como a inteligência artificial (IA), a Internet das Coisas (IoT) e automação de processos robóticos (RPA) que tem vindo a mudar drasticamente a forma como as empresas operam e como lançam novos produtos e serviços no mercado”.
No entanto, acautela os impactos da energia computacional e do hardware usado para desenvolver, treinar e executar algoritmos de IA “é inegável” e, a longo prazo, uma abordagem equilibra- da para a integração desta tecnologia nas práticas de sustentabilidade “tem de combinar o recurso de TI sustentáveis que suportem os períodos de maior consumo energético com o recurso de energias renováveis de forma a reduzir as emissões ao máximo para que o balanço final esteja alinhado com o propósito inicial: redução de consumos, aumento de eficiência e inclusão de práticas responsáveis”.
MICROSOFT E GOOGLE DESTACAM VANTAGENS DA IA
Sofla Vaz Pires, Diretora Executiva de Marketing & Operações da Microsoft Portugal, acredita que a tecnologia “pode ajudar a otimizar processos, reduzir desperdícios e criar novas soluções para os desafios ambientais, sociais e económicos que enfrentamos”. Exemplo disso, explica, são os serviços de cloud e Inteligência Artificial da Micro- soft que estão a apoiar organizações na redução do consumo de energia, necessidades de manutenção e atualizações de hardware, bem como na conceção de produtos mais sustentáveis. A migração para a cloud pode também ter um impacto significativo na redução do consumo energético. “A nossa cloud Azure vive suportada por datacenters energeticamente mais eficientes do que os datacenters tradicionais. Tal significa que quando uma organização transita as suas operações para a cloud da Microsoft, passa a depender menos de servidores e infraestruturas on-pre- mises (locais), o que resulta numa diminuição do consumo de energia e dos custos associados à manutenção dessas infraestruturas”, afirma.
A responsável destaca também o impacto positivo que a tecnologia pode ter em termos ambientais quando bem aplicada, como por exemplo, na agricultura de precisão, incluindo sensores IoT, drones e análise de dados para otimizar a utilização de recursos, nomeadamente a aplicação exata de água e fertilizantes, reduzindo os resíduos e os impactos ambientais.
Por acreditar que tem um papel a desempenhar nesta área, a Microsoft definiu três áreas-chave para investir que “permitirão criar soluções de sustentabilidade necessárias para enfrentar a crise climática”: avançar com soluções de Inteligência Artificial para controlo, medição e prevenção no impacto climático; acelerar o desenvolvimento de mercados de sustentabilidade e criar ferramentas que ajudem a cumprir as metas.
Além desta iniciativa global, a Microsoft atribuiu mais de 600 milhões de dólares do Fundo de Inovação Climática a mais de 50 investimentos, incluindo soluções sustentáveis em sistemas energéticos, industriais e naturais e anunciou a expansão do AI for Good Lab para o Egipto e Quénia, com o objetivo de “criar uma equipa de cientistas que irá trabalhar para melhorar a resiliência climática no continente africano”, acrescenta a responsável.
Segundo Sofia Vaz Pires, a Microsoft irá também trabalhar com eletricidade da primeira central elétrica de fusão comercial do mundo, da Helion, empresa sediada nos EUA, pioneira numa forma de criar energia de fusão.
A Google também não tem dúvidas sobre o papel positivo das tecnologias no ambiente. De acordo com uma investigação apoiada pela empresa e realizada pela Implement Consulting, as soluções digitais desempenham um papel importante para se conseguir, pelo menos, 20-25% das reduções necessárias para se alcançar uma economia net-zero (zero emissões líquidas de carbono) – o equivalente ao total das emissões de França e da Alemanha combinadas. Fonte oficial da Google dá como exemplo a implementação da inteligência artificial, que “pode melhorar significativamente o tráfego rodoviário e a eficiência energética em edifícios, ao mesmo tempo que a análise de big data permite-nos otimizar as cadeias de abastecimento de negócios”.
A plataforma Environmental Insights Explorer ajuda as cidades a compreenderem o seu impacto climático e a desenvolverem planos climáticos. Vá- rias das suas funcionalidades usam IA, como tendências de transporte, produção de energia solar estimada, emissões pelos edifícios ou o Tree Canopy, que combina IA e imagens aéreas para detetar a cobertura das árvores e planear projetos para a cidade. Também estão a aproveitar a IA para ajudar as comunidades a enfrentarem eventos climáticos extremos, com modelos de previsão de inundações ou recursos para a deteção de incêndios florestais. Através das rotas ecológicas no Maps, estão também usar “o poder da IA para dar aos viajantes a opção de poderem escolher a rota mais eficiente em termos de combustível caso ainda não seja a mais rápida”.
Para a Google, o setor tecnológico “tem um papel importante a desempenhar na descarbonização através da redução da sua própria pegada ecológica” e “está também a facilitar a transição verde a outras indústrias, pesadas em emissões”. A inovação “é fundamental para acelerar a ação climática”, sentencia.
IOT E ROBÓTICA: PILARES FUNDA- MENTAIS PARA O DESENVOLVIMEN- TO SUSTENTÁVEL
E pilares fundamentais para o desenvolvimento sustentável são quer a Internet of Things (IoT), Internet das Coisas em português, quer a Robótica, já que, segundo Rui Paulo Rocha, “permitem desenvolver soluções tecnologicamente inovadoras com potencial para racionalizarem a utilização de recursos naturais e energia nos diferentes setores de atividade da sociedade, contribuindo, portanto, para o desenvolvimento sustentável”.
O docente da “Internet das Coisas e Robótica para a Sustentabilidade” na Universidade de Coimbra explica que a IoT é, de resto, um dos “pilares funda- mentais” da 4ª revolução industrial em curso atualmente, conhecida por Indústria 4.0 (I4.0), cujo objetivo central é a digitalização da indústria. Esta revolução tecnológica e mudança de paradigma não seria possível sem a IoT”, assegura. Isto, porque este tipo de tecnologia “permite portanto alavancar o desenvolvimento sustentável da indústria na sua conceção mais clássica relacionada com a produção de matérias primas básicas e alimentos (e.g. agricultura, mineração, etc.) e com a transformação de matérias primas em produtos, aumentando a sua produtividade, a sua capacidade de produzir uma grande variedade de produtos complexos e altamente customizados de acordo com as preferências específicas de cada cliente (por oposição ao paradigma anterior de produção de grandes lotes de pequenas variedades de produtos estandardizados)”.
Segundo o professor, “para além dos ganhos óbvios a nível de desenvolvimento económico por via da inovação da indústria, existem ganhos importantes ao nível ecológico e social, por via do design de produtos e processos produtivos que minimizam a pegada ecológica (menos poluição, menor utilização de recursos naturais e energia, produtos mais recicláveis e promoção da economia circular) e melhoram as condições de trabalho dos trabalhadores da indústria”.
Numa conceção mais lata da indústria, a IoT “é uma ferramenta funda- mental de desenvolvimento sustentável também na indústria dos serviços, que é atualmente transversal a todos setores da sociedade, nomeadamente smart grids (gestão inteligente dos sistemas de energia elétrica), gestão de sistemas urbanos de abastecimento de água e de esgotos (otimização, deteção automática de avarias em tempo real, manutenção preditiva, etc.), gestão de sistemas de recolha e tratamento de lixo urbano, transportes inteligentes e sistemas de mobilidade inteligentes (e.g. integração de diferentes subsistemas de transporte, gestão de frotas, aumento da segurança, etc.), cuidados de saúde (e.g. monitorização de sinais vitais em tempo real, predição do aparecimento de doenças, predição e gestão e surtos epidémicos, etc.), comércio a retalho (automatização de armazenamento, inventário, pagamento contactless, marketing, etc.), domótica e smart homes, etc.”, acrescenta.
No que diz respeito ao potencial específico das tecnologias robóticas, Rui Paulo Rocha sublinha que, “dos 17 objetivos definidos pela ONU na sua agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, beneficiam diretamente da tecnologia robótica”.
Segundo o professor, na vertente económica do desenvolvimento sustentável, os robôs “permitem automatizar tarefas repetitivas, de baixo valor acrescentado, com uma precisão e rapidez de execução superior à dos operários humanos, contribuindo para aumentos de produtividade, qualidade e crescimento económico significativos da indústria”. Mas atualmente, acrescenta, os robôs industriais “já não são segregados dos operários humanos como aconteceu nas últimas décadas do século XX aquando da sua implementação em diversas indústrias, nomeadamente na automóvel”. “Pelo contrário”, continua, os robôs de hoje e do futuro “são e serão colaborativos, sendo projetados e programados para trabalharem em estreita colaboração e cooperação com operários humanos, coexistindo de forma segura e simbiótica no mesmo espaço de trabalho, na execução de tarefas industriais complexas (e.g. tarefas de montagem de produtos), capitalizando uma sinergia entre a inteligência e adaptabilidade insuperável dos seres humanos e a elevada repetibilidade, rapidez e precisão proporcionada pelos robôs”.
Na vertente ecológica, os robôs “podem ajudar na monitorização autónoma (sem intervenção humana) ou semiautónoma de ecossistemas abrangendo áreas geográficas muito extensas (e.g. oceanos, rios, lagos, habitats selvagens, etc.), na gestão das florestas e na prevenção e combate a incêndios florestais, na conservação e requalificação de ecos- sistemas e da biodiversidade, e na agricultura sustentável”.
Já na vertente social, os robôs “podem substituir as pessoas em tarefas que sejam repetitivas ou que ponham em risco a sua saúde ou a sua vida, contribuindo assim para a sua melhor qualidade de vida e bem-estar”. São exemplos destas tarefas o patrulhamento de infraestruturas críticas e edifícios públicos, limpeza de edifícios e espaços públicos, recolha e separação de lixo urbano, monitorização das redes de esgotos em grandes cidades, reconhecimento e socorro em cenários de catástrofe no âmbito de missões de busca e salva- mento, deteção e desativação de minas terrestres em campos minados e a exploração espacial ou oceânica a grandes profundidades.
POUCAS EMPRESAS TÊM ESTRATÉ- GIAS PARA TI SUSTENTÁVEIS
Mas terão as empresas estratégias real- mente abrangentes para a sustentabilidade das TIṢ Metade das organizações inquiridas pela Capgemini afirmaram ter definido uma estratégia de sustentabilidade a nível empresarial, mas apenas 18% disseram ter estratégias desse tipo com objetivos e prazos bem definidos. Para Catarina, embora em toda a ca- deia de valor e em todos os setores haja “exemplos práticos de adoção”, “há uma lacuna significativa no conhecimento do contributo das TI na pegada de carbono de uma organização”.
Um dos grandes desafios, acrescenta, “reside no próprio cálculo da pegada de carbono por ausência das ferramentas certas para medição e pelo facto de ser um desafio multifacetado: desde o impacto na produção do hardware às interações digitais como o email, chama- das de vídeo, armazenamento e partilha de dados”. Outro, continua, é a “perceção errónea de que uma transformação para TI sustentáveis implica investimentos avultados tanto a nível operacional como monetário”.
As TI “são cada vez mais a espinha dorsal de uma organização e da mesma forma que uma cirurgia a um órgão vi- tal impõe receios num doente, a perceção do risco associado à reestruturação para sistemas de TI sustentáveis é enorme, mas é mais uma questão de perceção do que um risco real”, assegura. Para a responsável, os benefícios de uma transformação deste teor “ultrapassam em larga escala os riscos” e, conclui, que, com a adoção de TI sustentáveis, as empresas “estão a definir um caminho robusto para a redução de custos operacionais, melhorias na performance de parâmetros de ESG, satisfação dos clientes e imagem da marca perante investidores, para não falar nos benefícios fiscais que estão associados”.
Rui Paulo Rocha também acredita que “já começaram a fazê-lo, mas ainda estamos certamente num estádio muito preliminar da mudança de paradigma que a redução de emissões de carbono requer no que às TI diz respeito”. Nessa medida, acrescenta, “ainda vai demorar algum tempo até que a sociedade comece a percecionar os resultados positivos da implementação do novo paradigma em prol da sustentabilidade de TI”.
Já os representantes da Google e Microsoft destacam os números das empresas que representam. Cristina Castanheira Rodrigues afirma que, só em 2022, foram contratadas 1.443.981 toneladas métricas de remoção de carbono e foram assinados novos contra- tos de aquisição de energia (CAE) em todo o mundo que “permitiram aumentar o total de energia sem carbono para mais de 13,5 GW”. Medidas que, aliadas aos mais de 135 projetos em 16 países, “se traduzem numa redução acima dos 22% das emissões de carbono da em- presa”, remata.
Fonte oficial da Google diz que “enquanto a quantidade de computação feita em data centers aumentou cerca de 550% entre 2010 e 2018”, a quantidade de energia consumida por essas infra- estruturas “cresceu apenas 6%” e que, nas últimas duas décadas, a Google “tem estado na vanguarda desta transição, criando e escalando tecnologias inova- doras bem como investindo em infraestrutura Cloud que ajuda outras empresas a atingirem suas próprias metas de sustentabilidade”.
*Artigo publicado originalmente em junho de 2023, na revista física da Green Savers