Tempestades de granizo podem atingir cidades australianas com mais intensidade



As alterações climáticas podem tornar as tempestades de granizo mais destrutivas em algumas cidades australianas, segundo um estudo sobre as tendências futuras do granizo publicado. Isso inclui as capitais Sydney, Canberra, Melbourne e Perth.

Ao analisar simulações do clima num mundo mais quente, «estamos a observar um aumento no tamanho do granizo em algumas capitais», afirma o autor principal, Dr. Tim Raupach, do Instituto de Risco Climático e Resposta da UNSW Sydney.

“As nossas projeções também mostram que as tempestades de granizo se tornarão mais frequentes em Brisbane, Sydney e Canberra”, afirma.

No entanto, Raupach afirma que, embora as projeções sejam úteis, ainda há muito que não sabemos. Para algumas cidades, como Adelaide, as simulações não mostram grandes mudanças.

“São necessárias mais pesquisas para abordar melhor as complexidades da modelagem do granizo”, adianta.

Pedras maiores, com mais frequência

De para-brisas partidos em Sydney a colheitas destruídas em Queensland, o granizo é um dos fenômenos naturais mais dramáticos – e caros. As tempestades de granizo foram responsáveis por mais de 20% das perdas seguradas na Austrália entre 1967 e 2023.

Os danos são causados principalmente pelo tamanho das pedras de granizo – e elas podem ser bem grandes. O recorde da Austrália, perto de Mackay, em Queensland, foi de cerca de 16 cm de diâmetro – mais do que o dobro do diâmetro de uma bola de críquete.

Embora pedras de granizo enormes como essas sejam raras, elas não são impossíveis. Raupach diz que tempestades mais intensas no futuro podem aumentar as chances de granizo de grande diâmetro.

“Analisámos as mudanças no tamanho dos granizos entre simulações de períodos históricos e futuros”, diz. “E podemos ver aumentos no tamanho dos granizos produzidos pelo modelo em torno de Sydney, Canberra, Melbourne e Perth. Por exemplo, em simulações anteriores, granizos muito grandes, de 10 cm, eram esperados uma vez a cada 20 anos em torno de Melbourne. Mas num futuro mais quente, isso acontecerá uma vez a cada três anos”, acrescenta.

O que forma um granizo?

As tempestades de granizo dependem do calor para se formarem, por isso ocorrem geralmente nos meses de primavera e verão, quando o ar quente da terra ou do oceano é empurrado para cima, para o ar mais frio, e sobe para a atmosfera.

“O tamanho do granizo é controlado pela força da corrente ascendente numa tempestade”, sublinha Raupach.

Numa tempestade, ventos fortes – correntes ascendentes – transportam a humidade para a atmosfera, onde ela congela. Estas partículas de gelo – conhecidas como «embriões de granizo» – absorvem água super-resfriada à medida que circulam pela nuvem de tempestade.

“Quanto mais forte for a corrente ascendente, mais tempo um granizo pode permanecer na tempestade e crescer”, diz oRaupach.

“Eventualmente, o granizo fica muito pesado e cai.”

Para formar pedras de granizo grandes, a nuvem de tempestade precisa ser alta, com muita energia para manter a pedra suspensa por tempo suficiente para acumular camadas de gelo.

A trajetória que a pedra de granizo segue dentro da tempestade também é importante.

“Existem regiões dentro de uma tempestade que têm mais umidade e são mais frias”, diz Raupach. “Quanto mais tempo o embrião passa nesses pontos húmidos e frios, maior ele pode crescer.”

Chuva, granizo ou sol?

Embora o granizo possa cair em qualquer lugar da Austrália, certas regiões estão particularmente expostas.

“A principal região é a costa leste, desde um pouco ao norte de Brisbane até um pouco ao sul de Sydney”, diz Raupach.

No entanto, outros pontos críticos, como as remotas minas de ouro da Austrália Ocidental e o Golfo de Carpentaria, também aparecem nos registos do radar. Estas são áreas pouco povoadas, onde é mais difícil recolher dados observacionais e relatos em primeira mão — razão pela qual se recorre frequentemente à modelação computacional.

Com o boom da indústria solar na Austrália, outra vulnerabilidade emergente são os painéis solares nos telhados.

“O granizo pode danificar os painéis solares. Já vimos isso acontecer – em Brisbane em 2020 e também nos Estados Unidos”, alerta Raupach.

Mas, segundo ele, isso não deve impedir nenhum investimento em energias renováveis.

“Também devemos pensar em como fortalecer nossas cidades para resistir aos danos causados pelo granizo, especialmente se o tamanho dos granizos estiver aumentando com as mudanças climáticas”, aponta.

Os australianos estão preparados?

O Serviço Meteorológico Australiano emite alertas de granizo. E algumas apólices de seguro cobrem danos causados por granizo.

Embora as seguradoras acompanhem há muito tempo o risco de granizo, Raupach trabalha diretamente com o setor para ajudá-las a compreender os riscos atuais e futuros.

No entanto, a preparação física da comunidade é outra questão.

“Para se proteger do granizo, você pode se abrigar, abrigar seu carro, ter um bom seguro e telhas resistentes”, explica Raupach. Ele diz que alguns agricultores usam redes contra granizo.

Joanna Aldridge, coautora do estudo da QBE Insurance, diz que uma questão importante permanece. “As normas de construção australianas ainda não incluem resistência ao granizo, o que deixa muitas propriedades vulneráveis”, diz.

Por enquanto, Raupach recomenda seguro, preparação e conscientização. Mas, a longo prazo, ele vê dois caminhos a seguir.

Em primeiro lugar, ele sugere a redução das emissões de gases de efeito estufa como um passo fundamental para mitigar os impactos das alterações climáticas em eventos climáticos severos.

“Reduzir as emissões de gases de efeito estufa continua a ser um objetivo crucial”, afirma Raupach.

Em segundo lugar, diz que a investigação deve continuar. Por exemplo, há uma questão emergente sobre como os ambientes urbanos — as estruturas das cidades — afetam o granizo. Ele diz que pode haver opções inovadoras que valem a pena explorar para projetar e redesenhar as cidades do futuro — uma questão de investigação na qual ele e os seus colegas estão a trabalhar.

“Ainda é muito cedo, mas talvez um dia possamos projetar cidades com um risco reduzido de tempestades”, aponta Raupach.

Por enquanto, ele afirma que os australianos que vivem em regiões propensas a granizo devem permanecer alertas — e talvez reconsiderar onde estacionam o carro durante uma tempestade.

 






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