Tubarões-martelo sustêm a respiração em águas profundas para se manterem quentes

Quanto mais fundo mergulhamos nas águas marinhas, maior é a pressão e também menores são as temperaturas. Por isso, quando os animais que habitam a superfície se aventuram para zonas mais profundas, manter a temperatura corporal é fundamental para evitar hipotermia e até a morte.
Um dos animais que nada em águas mais frias em busca de presas, como lulas das profundezas, é o tubarão-martelo-recortado (Sphyrna lewini). De acordo com um artigo divulgado esta semana na revista ‘Science’, este predador de esqueleto cartilaginoso sustém a respiração durante mergulhos a grande profundidade para manter se manter quente em águas mais frias.

Foto: Kris Mikael Krister / Wiki Commons
Mark Royer, especialista em tubarões da Universidade do Havai em Mānoa e principal autor do trabalho, confessa que foi com surpresa que a equipa se deparou com este mecanismo de termorregulação neste animal, pois “não se esperava que os tubarões sustivessem a respiração para caçar tal como fazem os mamíferos marinhos”.
Para isso, os tubarões-martelo-recortados fecham as guelras, impedindo que a água fria possa arrefecer o seu sangue e, consequentemente, os seus músculos e órgãos. Apesar de serem animais que vivem habitualmente em águas mais superficiais e quentes, quando caçam podem mergulhar em zonas da coluna de água que podem chegar aos cinco graus Celsius.
Se a sua temperatura corporal descer demasiado, tal como acontece com muitos outros animais, incluindo os humanos, os seus músculos poderiam entorpecer e, dessa forma, afetar a sua capacidade de caça.
“Este comportamento que não tinha ainda sido observado revela que os tubarões-martelo-recortados têm estratégias de alimentação que são muito semelhantes às de alguns mamíferos marinhos”, como as baleias-piloto, do género Globicephala. “Ambos evoluíram para explorarem as presas de profundidade e fazem-no sustendo a respiração para acederem a ambientes fisicamente desafiantes durante curtos períodos de tempo”, salienta o cientista.

Foto: Barry Peters / Wiki Commons
A descoberta foi possível, porque os investigadores equiparam alguns tubarões-martelo com dispositivos que permitiram medir a temperatura corporal do animal, bem como a profundidade a que mergulham.
Esta teoria foi reforçada por vídeos dos tubarões a uma profundidade de cerca de mil metros que mostram as suas guelras bem fechadas, ao passo que, em águas mais superficiais, as guelras estão claramente abertas.
As medições feitas permitiram também perceber que os tubarões-martelo-recortados reabrem as guelras antes mesmo de chegaram às águas mais quentes, uma vez que os sensores registaram quedas abruptas da temperatura corporal dos animais quando ainda em águas relativamente profundas.
“Suster a respiração mantém os tubarões-martelo-recortados quentes, mas também impede o fornecimento de oxigénio”, diz Royer, que acrescenta que, apesar de poderem ficar sem respirar durante uma média de 17 minutos, geralmente não se mantém mais do que quatro minutos no limiar máximo da sua capacidade de mergulho antes de regressarem à superfície.
O tubarão-martelo-recortado é uma espécie fortemente ameaçada a nível global, sobretudo devido ao comércio internacional de barbatanas de tubarão e da sua carne. Além disso, por ser uma espécie migradora, de crescimento lento e com períodos de gestação longos, está também vulnerável a perdas populacionais derivantes da captura acidental em artes de pesca.

Foto: Seawatch.org / Wiki Commons