Um terço do Ártico boreal deixou de ser sumidouro de carbono. Agora é fonte de emissões
Perto de 34% da região boreal do Ártico, caracterizada por vastas tundras, floresta e zinas húmidas, é agora uma fonte de emissões de dióxido de carbono, revela novo estudo publicado esta terça-feira na ‘Nature Climate Change’.
Numa investigação liderada pelo Woodwell Climate Research Center, os cientistas descobriram que os efeitos do aumento da temperatura global e de incêndios cada vez mais frequentes perto do Norte do planeta estão a esgotar a capacidade milenar de sequestro de carbono dessa região gelada da Terra.
Ao longo de milhares de anos, o Ártico tem atua praticamente como uma “câmara frigorífica” na qual o carbono fica aprisionado nas camadas de gelo que nunca derretem, o permafrost (ou pergelissolo, em português). Acontece que, num planeta cada vez mais quente, o permafrost tem vindo a desaparecer, libertando na atmosfera grandes quantidades de gases com efeito de estufa, agravando os efeitos das alterações climáticas, num perigoso ciclo de reforço positivo.
Através da recolha de mediações de dióxido de carbono em 200 locais no Ártico, feitas entre 1990 e 2020, os investigadores mostram como a região boreal do pólo Norte do planeta está a ser radicalmente transformada.
“Embora tenhamos encontrado muitos ecossistemas do Norte que continuam a atuar como sumidouros de dióxido de carbono, regiões emissoras e os incêndios estão agora a anular grande parte dessa captura líquida e a inverter tendências de longa data”, aponta, em comunicado, Anna-Maria Virkkala, primeira autora do artigo.
Ainda que tenha sido possível constatar que, ao longo do período de 30 anos estudado, a absorção de carbono no Ártico boreal tenha aumentado, não é suficiente para compensar o aumento das emissões causada pelo aumento da temperatura atmosférica.
Com a redução da cobertura gelada, o Ártico está a tornar-se mais verde. Poderia pensar-se ser algo positivo, mas com o degelo vem também uma maior atividade de microrganismos emissores de dióxido de carbono, promovendo a inversão ciclo carbónico no Ártico. Além disso, maiores áreas de vegetação podem também ser potenciais fontes de emissões, fruto, por exemplo, de incêndios e da decomposição de uma maior quantidade de matéria orgânica.
Sabe-se que a vegetação é também ela um sumidouro de carbono, mas o estudo mostra que embora 49% da zona boreal do Ártico se tenha tornado mais verde, só foi registado um aumento anual de 12% na absorção de dióxido de carbono.
“O ciclo de carbono na região do permafrost está mesmo a começar a mudar”, afirma Virkkala, que acredita que “o nosso estudo pode servir como um sinal de alerta de que se avizinham maiores mudanças, e fornece um mapa dos lugares que devemos monitorizar melhor nas próximas décadas”.