“Verdadeiramente chocante”: Microplásticos encontrados no sistema reprodutor de tartarugas marinhas

Cientistas descobrem “concentrações significativas” de microplásticos no sistema reprodutor de machos de tartarugas marinhas, revela estudo.
Publicada recentemente na revista ‘Marine Environmental Research’, a investigação liderada pela Universidade de Manchester (Reino Unido) analisou os cadáveres de 10 tartarugas-comuns (Caretta caretta) que morreram de exaustão ou por afogamento depois de terem sido apanhadas em redes de pesca. Os corpos foram depois recolhidos pela Fundação Oceanográfica de Valência (Espanha).
Os investigadores encontraram também grandes quantidades de microplásticos noutros órgãos e partes do corpo de tartarugas-comuns machos e fêmeas, como no coração, rins, fígado, baço, músculos, gordura subcutânea, estômago e intestinos.

Para os autores, a descoberta é mais um sinal de que a espécie, já classificada como “Vulnerável” na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza, poderá estar ainda mais ameaçada do que se pensava, tornando o seu futuro incerto.
Em comunicado, Leah Costello, primeira autora, diz que este é o primeiro estudo que a encontrar microsplásticos nos órgãos de tartarugas-comuns e a mostrar que essas partículas sintéticas podem viajar do sistema digestivo das tartarugas marinhas para vários outros órgãos desses animais, incluindo órgãos reprodutores.
“Os microplásticos são um poluente marinho omnipresente, em pé de igualdade com outras ameaças globais, como as alterações climáticas e a perda da camada de ozono”, aponta a cientista.
“As tartarugas marinhas enfrentam muitas pressões causadas pela atividade humana e embora soubéssemos que elas ingerem plástico por toda a sua área de distribuição, a descoberta de microplásticos em quase todas as amostras de tecidos foi verdadeiramente chocante”, confessa.
Por isso, avisa que os resultados do estudo “mostram que mesmo indivíduos aparentemente saudáveis podem estar sob stress fisiológico, impactando o sucesso reprodutivo de populações vulneráveis e em recuperação”.

Foto: Nataša Stuper / Wikimedia Commons (licença CC BY 2.0)
Os tipos de microplásticos mais encontrados nos cadáveres de tartarugas-marinhas foram polipropileno, fibras de poliéster e polietileno. Além disso, microfibras de algodão foram também identificadas no coração de alguns indivíduos.
Sobre de que forma os microplásticos podem afetar a vida das tartarugas, Holly Shiels, coautora, explica que “a acumulação de microplásticos poderá estar associada a danos nos órgãos e a toxicidade nestes incríveis répteis marinhos que podem viver durante 70 anos”.
Ainda que admita que é preciso mais trabalho de investigação para perceber, ao certo, como é que as micropartículas de plástico afetam a reprodução das tartarugas marinhas, Shiels sugere que podem existir impactos ao nível do crescimento, desenvolvimento e sobrevivência das crias, “o que pode ser um problema para a estabilidade destas populações de tartarugas marinhas já vulneráveis”.