Investigadores portugueses integram investigação sobre o impacto da pesca no habitat dos tubarões
Uma equipa de cientistas internacional, da qual fazem parte investigadores portugueses, publicou dois estudos (artigo 1 e artigo 2) na revista científica Nature, acerca do impacto da pesca na sustentabilidade de diversas espécies de tubarões.
Esta nova investigação foi conduzida com sucesso ao longo do último ano em resposta a um artigo publicado em 2019 sobre a mesma temática. O trabalho original concluiu que cerca de um quarto dos habitats dos tubarões estavam em zonas de pesca ativa, o que ameaçava grandemente os tubarões, cujas populações têm vindo a declinar em todo o mundo.
As principais questões levantadas pelos autores que originaram os dois novos artigos prenderam-se, em primeiro lugar, com o facto de a suscetibilidade dos tubarões à pesca não poder ser inferida somente pela sobreposição espacial entre a distribuição de tubarões e a distribuição do esforço de pesca, e em segundo lugar pelo facto de os algoritmos informáticos que processam os dados de AIS – Automatic Identification System fornecidos pelas embarcações e que identificam a atividade pesqueira não apresentarem um nível de precisão adequada, levando a que a atividade pesqueira seja erradamente classificada em algumas situações.
Para atender a estas questões os investigadores realizaram diversas análises, tendo concluído que se verifica uma correspondência direta significativa entre a captura por unidade de esforço de tubarões e as áreas com maior sobreposição espacial entre tubarões e esforço de pesca, indicando que a sobreposição espacial entre tubarões e atividade pesqueira é um indicador fiável de suscetibilidade à pesca.
A reanálise dos dados utilizando dados de AIS mais recentes, resultou numa diminuição do tamanho das áreas de refúgio da pesca relativamente à estimativa inicial, indicando que os valores calculados no trabalho original estavam sobrestimados. A utilização desses novos dados de AIS não alterou as estimativas iniciais de sobreposição espacial mensal (24%), e as simulações baseadas na eliminação aleatória de dados e na reclassificação aleatória da atividade pesqueira não alteraram os padrões descritos de sobreposição e suscetibilidade de tubarões relativamente à atividade pesqueira.
O investigador André Afonso, do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente do Politécnico de Leiria, que integra a equipa de especialistas, explica que “A publicação destes estudos revela-se de extrema importância, dado que a análise foi conduzida numa escala global e utilizou tecnologia de ponta que permitiu monitorizar simultaneamente os movimentos e a distribuição de várias espécies de tubarão e das embarcações de pesca que operam em águas internacionais. O acompanhamento da atividade piscatória nesses ambientes remotos é extremamente insipiente, pelo que os resultados aqui apresentados fornecem-nos um panorama inédito e real sobre o atual nível de exposição dos tubarões oceânicos à pressão humana, contribuindo assim para o desenvolvimento de medidas de gestão que assegurem a conservação destes importantes predadores marinhos.”