A morte do centro comercial americano



Luzes do tecto suspensas no ar apenas pelos fios eléctricos e papel de parede que pende das paredes, como se de pele morta se tratasse. As escadas rolantes permanecem imóveis e os únicos indícios de vida são as plantas mortas. É difícil acreditar que tenha havido vida nestes locais.

Este é o cenário actual de muitos centros comerciais espalhados pelo território norte-americano. Muitos já sucumbiram, outros ainda lutam com as alterações socioeconómicas mas poucos ostentam a vida de outras décadas, impulsionada pelo crescimento dos subúrbios. Estima-se que a percentagem destes espaços que possa fechar ou ser reutilizada para outros fins nas próximas décadas varie entre 15 a 50%.

Os causadores deste abandono da cultura consumista nos centros comerciais são as vendas online e o regresso às superfícies comerciais no centro das cidades. Segundo o consultor de retalho, Howard Davidowitz, numerosos pequenos centros comerciais, muitos nascidos durante a explosão suburbana depois da Segunda Guerra Mundial, podem ter os dias contados. “Estão a desaparecer e a desaparecer. Tentam mudar, lançar campanhas de descontos mas os consumidores simplesmente não têm dinheiro”,explica o consultor.

A cultura de compras segue a cultura das habitações. Os centros comerciais que outrora se espalhavam como pragas eram um produto natural do pós-guerra, à medida que os americanos munidos de carros e contas bancárias gordas se mudavam para os subúrbios. O pico do aparecimento destas superfícies comerciais terá sido os anos 1980, quando se construíam mais de 100 por ano.

Actualmente, os Estados Unidos possuem cerca de 1.500 espaços comerciais, muitos com pouco movimento e parques de estacionamento suficientemente grandes para estacionar sem problemas. Para os americanos do pós-guerra e décadas seguintes, estes espaços proporcionavam uma alternativa quase utópica às baixas da cidade, onde existia mais comércio. Assim, os centros comerciais tornaram-se uma espécie de baixas de cidade mas com menos crime e mendigos. Progressivamente, os centros comerciais tornaram-se em “cidades onde ninguém vive mas toda a gente consome”, como descreveu Joan Didion em 1979.

Os centros comerciais eram um local para ver e ser visto e, como todos os outros microcosmos da sociedade humana, desenvolveram as suas próprias espécies: fanáticos por compras, os seguranças de centro comercial e os observadores de montra, assim como eventos anuais como a Black Friday.

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