Lisboa é desafiada a criar “superbairros” com estradas cedidas aos moradores
As associações Lisboa Possível e Zero querem criar “superbairros” em Lisboa e têm apresentado o projeto a freguesias da capital portuguesa, propondo restringir a circulação automóvel dentro de bairros para criar mais espaço pedonal.
Os promotores alertam que as ruas estão “poluídas e barulhentas” por causa dos carros, o que tornou a cidade “inóspita”, e querem ceder as estradas dos bairros aos moradores.
“Vamos caminhar sem medo, brincar na rua, conversar, ouvir música ou simplesmente o silêncio, pedalar, desfrutar das esplanadas e respirar bem”, propõe a Lisboa Possível, na informação divulgada sobre o projeto.
O conceito dos “superbairros” é inspirado na visão de Ton Salvadó, antigo diretor do planeamento urbano do município de Barcelona (Espanha), onde esta ideia foi implementada a partir de 2016 em vários quarteirões.
O município catalão descreve no seu ‘website’ um futuro com “uma rede de praças e centros verdes onde os peões têm prioridade”, com o tráfego desviado para estradas fora do bairro e em que apenas entram e saem veículos de moradores e comerciantes.
A representante da Lisboa Possível, Ksenia Ashrafullina, explicou à agência Lusa que atualmente há conversações com duas freguesias de Lisboa para concretizar a proposta, depois de terem tentado implementar um “superbairro” na Misericórdia.
A proposta era, em colaboração com esta Junta de Freguesia, fechar por um dia o trânsito das ruas à volta da Praça das Flores, de forma a mostrar o conceito, enquanto decorriam várias atividades ambientais e culturais.
A iniciativa estava apontada para o dia 23 de setembro, mas a Câmara de Lisboa autorizou o evento para a véspera para se realizar na Semana Europeia de Mobilidade, não deixando a autarquia de referir, numa resposta escrita à Lusa, as “dificuldades que tal pedido iria trazer ao trânsito local por se tratar de um dia de semana”.
Era necessário o aval da Polícia Municipal para encerrar o trânsito e, perante a demora na autorização, a organização decidiu adiar o “superbairro” para 29 de outubro e realizou no dia 22 de setembro uma “conversa entre vizinhos”.
Nesse evento, moradores e comerciantes falaram na Praça das Flores dos problemas do bairro, assim como de potenciais soluções, surgindo pedidos como passeios maiores, locais para parar trotinetes e bicicletas, mais autocarros, parques de estacionamento para moradores e restrições ao trânsito.
A Lisboa Possível disse que depois de realizada esta conversa a Junta da Misericórdia não comunicou com a associação durante duas semanas e acusou esta autarquia de “censura”, por lhe ter pedido que apagasse conteúdos publicados na Internet sobre a iniciativa. A associação acabou por “perder a confiança” para realizar o projeto nesta freguesia.
Questionada pela Lusa, a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira (PS), respondeu que “não pode assumir publicamente uma iniciativa sem ter a autorização da Câmara Municipal de Lisboa” e que os promotores só podem “divulgar uma iniciativa quando está preparada”.
A Lisboa Possível disse que esperava que a junta enviasse ao município o pedido para o “superbairro” ser executado no dia 29 de outubro. A Câmara de Lisboa respondeu à Lusa que “não existe na Divisão de Processos de Mobilidade registo de qualquer entrada de pedido de condicionamento na freguesia da Misericórdia” para este dia.