Top 10 dos principais riscos são sociais ou estão relacionados com o meio ambiente
No “Innovation Show Case Day” do projeto Nextlap, Érica Liberato, consultora em sustentabilidade, falou sobre a evolução dos riscos globais entre 2007 e 2020.
Para a consultora, o conceito de sustentabilidade “foi-se miscigenando ao longo do tempo”, sublinhando que o “tripé” da sustentabilidade, que antes era muito mais setorizada, acabou sendo, ao longo do tempo, “miscigenada”
Érica Liberato destacou a economia donut, que “trabalha com os limites da natureza”. Ou seja “como é que conseguimos evoluir ou crescer, desenvolver a economia dentro dos limites da natureza, mas também abarcando as necessidades sociais dos países e das organizações”, afirmou, explicando que, quando esta teoria foi lançada, “pareceu muito utópico essa ideia”, mas que já existem governos (na Holanda e na Costa Rica, por exemplo), que estão a trabalhar na economia donut.
“Então, a evolução do conceito da sustentabilidade foi-se tornando muito mais complexa ao longo do tempo. E eu gosto de fazer uma analogia como se fosse uma receita de bolo. Ao longo do processo de desenvolvimento do conceito, passamos a entender que as coisas não poderiam ser dissociadas. Estamos a falar de um conceito muito complexo em que a sustentabilidade vem para marcar um olhar muito mais completo e integrado dessa dinâmica”, sublinhou.
Com essa evolução, continuou, hoje-em-dia “falamos bastante do ESG, que, na verdade, são práticas e critérios de sustentabilidade que as empresas podem medir a sua evolução, mas também dar um pouco mais de transparência a essas informações. O ESG surge depois de o mercado financeiro ter abraçado este conceito”.
Para Érica Liberato, o pilar social “ainda precisa de ser desenvolvido”, remetendo para o mapa de interconexões sobre os riscos que são identificados no mundo, presente no relatório que o Fórum Económico Mundial publica todos os anos.
E como evoluiu de 2007 até 2020 esse tema do ambiente? Como é que os riscos globais evoluíram neste período?
Por exemplo, em 2007, explica a consultora, “vemos muito mais riscos económicos e eles evoluíram para riscos mais relacionados com o meio-ambiente, com a parte tecnológica como geopolítica e o social e temos realmente um agravamento desses riscos. Os principais riscos, os top 10 de curto e longo prazo são sociais, são relacionados com o meio ambiente”.
Érica Liberato remete para o autor do livro “Teoria U” que diz que a principal quebra “é ecológica”, ou seja, “estamos a consumir muito mais do que a terra comporta, a quebra social, hoje temos muito mais relações tóxicas, o mundo está em guerra, e as estruturas como a saúde mental (há muitas pessoas com depressão)”.
Como é que podemos mudar este padrão destes modelos mentais?
“Tudo começa por nós”, afirma, questionando: “se as agendas de sustentabilidade estão a avançar porque é que estamos a ter resultados assim? O que é que estamos a fazer com as nossas escolhas?”.
“A qualidade dos resultados criados por um sistema é uma função da conscientização a partir da qual as pessoas do sistema operam.”, propõe Otto Scharmer e Érica concorda, deixando clara a importância da liderança. “Não importa se temos as melhores tecnologias ou as melhores estruturas, se não temos liderança consciente e responsável para tomar decisões e considerar muito além do lucro, vai ficar bastante complicado diante da urgência que temos como sociedade, com o planeta”, afirma.
A consultora explica que a sustentabilidade considera sistemas dinâmicos, que depende do lugar onde estamos, do setor. “Por exemplo, no Brasil falamos em pobreza e fome e em Portugal em pobreza energética. Por isso é que a sustentabilidade também é dinâmica dependendo do local onde estamos, do setor, entre outros fatores. Ela não é um ponto fixo e também não é o fim da jornada. Esse não é um ponto final. Como é que conseguimos evoluir e que fazer com que essa evolução, essa inovação permaneça. É um conjunto de valores e práticas e a manutenção desses valores”.
A Universidade de Estocolmo redesenhou os ODS e colocou como ponto central as alianças estratégicas. “Para avançarmos é importante olhar para essas alianças”, sublinha Érica, para quem a natureza é a maior mentora do ODS 17. “Nós deixámos de contemplar a natureza, deixámos de ter essa conexão com a natureza, mas ela é mentora, ela está sempre a resolver problemas. A natureza pode-nos brindar muitas informações. Porque com a desconexão com a natureza ela passou a ser um objeto de estudo, ou um lugar de distração onde nos sentamos, estamos, de descarte. E é muito interessante porque uma das organizações com quem trabalho em Portugal, um exercício que fazemos é olhar para o nosso contentor de lixo que vai ser o espelho das nossas escolhas. E é muito importante fazer esse exercício”.
Então o que é que a natureza já traz?
“A simplicidade”, responde. “A Economia circular: devolver para o sistema um recurso, isso já acontece, a natureza já é cíclica, já é regenerativa. Ela é muito mais do que colaborativa, funciona em sistemas de confiança. Porque a minha espécie confia que a sua existe para a minha coexistir. E uma das coisas que o ser humano perdeu foi realmente a confiança. É preciso uma consciência ecossitémica que perdemos ao olhar mais para as partes do que para o todo. A consciência ecossistémica amplia a visão de mundo e ajuda na tomada de decisão mais consciente, mais responsável e que cria valor para a sociedade e para o planeta”, conclui.
Érica Liberato, consultora em sustentabilidade, foi oradora no Innovation Show Case Day do projeto Nextlap, que decorreu esta segunda-feira no espaço “Colectivo 284” nas Amoreiras em Lisboa.
O NextLap é um programa de inovação que pretende dar uma segunda vida aos pneus. O objetivo é criar ligações entre parceiros, empresas especialistas do setor comprometidas com a Economia Circular, e equipas de inovadores da área, com o objetivo de encontrar soluções baseadas em borracha, têxtil ou outros materiais de pneus em fim de vida.
A segunda edição do programa arrancou a 7 de abril de 2022 e a entidade gestora portuguesa Valorpneu e a Genan, líder mundial em reciclagem de pneus, voltaram a unir-se à consultora Beta-i no projeto que impulsiona novas técnicas e modelos de negócio para a circularidade do setor
No Innovation Show Case Day do projeto Nextlap, além da partipação de Érica Liberto, 5 projetos participantes apresentaram os resultados.