Greenpeace acusa G7 de ignorar a ciência ao apoiar libertação de águas contaminadas de Fukushima
A Greenpeace considera que o aval dado pelo grupo dos sete países mais industrializados do mundo (G7) aos planos do governo do Japão para libertar no Oceano Pacífico as águas dos reatores nucleares de Fukushima mostra que “escolheram a política em vez da ciência”.
De acordo com a organização ambientalista internacional, a intenção das autoridades japonesas, tornada pública em janeiro e que gerou grande controvérsia, resultará na libertação de cerca de 1,3 milhões de toneladas de “águas residuais radioativas”, que, antes do desastre de 2011 que levou à destruição da central de Fukushima, foram usadas para arrefecer os reatores e, desde então, têm estado guardadas em tanques.
The nations of the #G7 have chosen politics over science and the protection of the marine environment with their decision today to support the Japanese government’s plans to discharge #Fukushima radioactive waste water into the Pacific Ocean.https://t.co/k4LZvTYeZZ
— Greenpeace PressDesk (@greenpeacepress) April 16, 2023
O governo japonês diz que a libertação das águas é essencial para desmantelar definitivamente a central, mas os ambientalistas recordam que já diversos especialistas colocaram em questão a fiabilidade dos dados científicos avançados pela TEPCO, proprietária da central, para justificar essa libertação.
A acusação surge depois de este domingo, os ministros do ambiente, clima e energia dos países do G7, num comunicado conjunto, terem afirmado que apoiam a análise da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) que aponta que a libertação “da água tratada será feita em linha com os padrões de segurança da AIEA e o direito internacional” e que “não será prejudicial para os humanos nem para o ambiente”. De recordar que a Presidência rotativa do G7 é este ano assumida pelo Japão.
A Greenpeace denuncia que o “governo japonês está desesperado” para receber apoio internacional aos seus planos de “descarga de água radioativa no Oceano Pacífico” e que “falhou em proteger os seus próprios cidadãos, incluindo as comunidades piscatórias vulneráveis de Fukushima, bem como as nações em toda a região do Pacífico”.
Destacando que Tóquio falhou também na adequada avaliação dos impactes ambientais que uma operação dessas poderá ter nos ecossistemas marinhos e costeiros, e nas comunidades humanas que vivem nessas zonas e dependem dos recursos naturais locais, Shaun Burnie, especialista em assuntos nucleares da organização ambientalista, argumenta que esses planos “são uma violação da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar”.
“O ambiente marinho está sob uma pressão extrema por causa das alterações climáticas, da pesca excessiva e da extração de recursos. Ainda assim, o G7 considera aceitável apoiar planos para deliberadamente despejar resíduos nucleares no oceano”, critica Burnie, apontando que a política se sobrepôs “à ciência, à proteção ambiental e ao direito internacional”.
A organização ambientalista diz que a tecnologia da central de Fukushima para tratar as águas usadas no arrefecimento dos reatores tinha falhas, pelo que é impossível uma limpeza total da contaminação radioativa, e que, por isso, devem ser equacionadas alternativas, como soluções de armazenamento a longo-prazo.
“O legado do desastre de Fukushima mostra que a energia nuclear não é a solução para as crises energética e climática”, salienta a Greenpeace.