Tubarão-frade: O segundo maior peixe do mundo é, afinal, um animal de ‘sangue quente’
Estima-se que cerca de 99,9% de todas as espécies de peixes e tubarões sejam ectotérmicos, ou seja, a sua temperatura corporal tende a ser igual à da água na qual nadam. Mas o atum, o tubarão-branco e o tubarão-anequim são das poucas espécies que têm ‘sangue quente’, e agora recebem nesse grupo restrito uma nova espécie: o tubarão-frade.
Apesar de, até agora, se considerar que apenas os predadores marinhos de topo terem ‘sangue quente’, uma equipa de cientistas do Reino Unido, Irlanda e da África do Sul, descobriu que este elasmobrânquio, da espécie Cetorhinus maximus, de hábitos pacatos e que se alimenta de pequenos organismos através de filtração, é também um animal endotérmico.
Haley Dolton, investigadora da Trinity College Dublin e principal autora do artigo publicado na revista ‘Endangered Species Research’, explica esta descoberta sobre o tubarão-frade é um “exemplo flagrante” do desconhecimento que ainda existe acerca dos tubarões.
“O facto de termos ainda muito para descobrir sobre o segundo maior peixe do mundo – um animal tão grande e carismático que é reconhecido pela maioria das pessoas – apenas salienta o desafio que os investigadores enfrentam para recolher o que podem sobre a espécie para contribuir para estratégias de conservação efetivas”, sublinha em comunicado.
De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o tubarão-frade é uma espécie em perigo na Europa e vulnerável a nível global. E Dolton acrescenta que poderá enfrentar cada vez mais perigos à medida que a temperatura dos oceanos aumenta por causa do aquecimento global, pois os animais endotérmicos usam mais energia dos que os outros peixes e “podem responder de forma diferente ao aquecimento marinho”.
“Por isso, é preciso muito mais trabalho para compreender como estas descobertas sobre uma espécie ameaçada podem alterar noções prévias sobre o seu metabolismo ou sobre possíveis mudanças na sua distribuição durante a nossa crise climática, algo em que os biólogos marinhos se têm focado à medida que o nosso planeta e os nosso mares continuam a aquecer”.
Os resultados foram obtidos através da dissecação de tubarões-frade mortos que deram às costas da Irlanda e do Reino Unido, tendo identificado músculos semelhantes aos dos tubarões-brancos e dos atuns, que lhes permitem nadar velozmente.
Além disso, foram também colocados dispositivos de medição de temperatura em alguns tubarões-frade vivos ao largo da costa de Cork, na Irlanda, através dos quais os investigadores perceberam que os animais conseguiam manter a sua temperatura corporal acima da temperatura da água.
Saber que os tubarões-frade são endotérmicos foi tão surpreendente para esta equipa que Nicholas Payne, outro dos investigadores envolvidos no projeto, diz que “é como se de repente descobríssemos que as vacas têm asas”.
Um tubarão-frade em águas portuguesas
No passado domingo, dia 17 de julho, a Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) revelou que um tubarão-frade foi avistado e fotografado “na zona do parque eólico offshore de Viana do Castelo”.
Numa publicação na rede social Facebook, a DGRM explicou que “é o segundo maior tubarão do mundo, logo a seguir ao tubarão-baleia, podendo atingir perto de 10 metros de comprimento” e que por vezes pode ser avistado na orla atlântica nacional, sobretudo “onde a água é mais rica em alimento e não mostram receio em se aproximar de pessoas ou embarcações”.
E informou que o tubarão-frade “não é perigoso” para os humanos, preferindo alimentar-se de krill, plâncton e ovas de peixe. “Abrindo a sua enorme boca aspira a água e retém o alimento, podendo filtrar mais de duas mil toneladas de água por hora”, apontou.