África tem capacidade para liderar negociações sobre clima da COP28



O investigador Ilhan Dahir​​ considera que África pode liderar as conversações sobre novas soluções climáticas na COP28, se tiver uma posição forte e defender a responsabilidade equitativa, a resiliência aos impactes climáticos e as necessidades das comunidades vulneráveis.

Na capital do Quénia, Nairóbi, decorreram em setembro a Semana Africana do Clima, a primeira Cimeira Africana do Clima, da qual resultou a Declaração de Nairóbi, e a Cimeira sobre o Clima na África Real, que contrasta com as duas primeiras por ter sido desenvolvida pela Sociedade Civil e não pelo Governo, recordou num artigo.

Contudo, o continente “ainda não conseguiu aplicar adaptações eficazes e favoráveis relativamente ao clima”, e deve enfatizar o princípio das Nações Unidas de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” e “afastar-se das trocas extrativas que continuam a colocar África em desvantagem, escreveu num artigo publicado hoje o analista do Instituto para os Estudos de Segurança (ISS).

​​​​​​​Antes da COP28, que se vai realizar entre 30 de novembro e 12 de dezembro, “África precisa de uma posição mais forte”, frisou o investigador.

A cimeira anual do clima “carece de uma reflexão sobre a mudança de sistemas e não abordou adequadamente a adaptação e a recuperação de perdas e danos já ocorridos – potencialmente a preocupação mais importante para os africanos”.

O investigador aponta ainda que “não tem um plano de ação para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e não aborda a degradação ambiental e as violações dos direitos humanos em África devido à extração de petróleo bruto”.​​​​​​​

A sociedade civil apresentou “uma visão alternativa que desafiou diretamente as abordagens económicas da Semana do Clima” e “deu voz aos grupos marginalizados que correm maior risco de sofrer os efeitos relacionados com o clima, incluindo agricultores, povos indígenas, jovens e mulheres”, explicou o investigador.

Assim, para a COP28, é necessário que o continente apresente uma mensagem homogénea e que não haja “desfasamento entre a sociedade civil e a liderança política”, defendeu.

“África precisa urgentemente de novos modelos que centrem as medidas de adaptação para os 33 milhões de pequenos agricultores do continente, para os 30 milhões de africanos que vivem em zonas de risco de inundações e para os cerca de 140 milhões que enfrentam uma insegurança alimentar aguda relacionada com o clima”, concluiu o investigador.

Em setembro, África foi atingida por um fenómeno climático devastador quando fortes chuvas provocaram o colapso de duas barragens na Líbia, inundando a cidade de Derna, na costa oriental. Estima-se que 4.000 pessoas tenham morrido e 46.000 tenham ficado desalojadas, o que fez desta inundação a mais mortífera em África no último século.

Já Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, apesar de África ser o continente que menos contribui para as emissões globais de gases com efeito de estufa.​​​​​​​ Moçambique enfrenta ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.

O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.





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