Abelhões não conseguem detetar sabor de pesticidas no néctar. Mesmo em concentrações letais



Os insetos, como abelhas, borboletas e sirfídeos, são aliados cruciais das sociedades humanas, uma vez que, por exemplo, polinizam as culturas agrícolas e ajudam-nos a manter a segurança e estabilidade da produção de alimentos.

Contudo, o uso de produtos tóxicos na agricultura, como pesticidas, tem sido apontado como uma das principais causas do declínio acentuado desse grupo de animais invertebrados, causando uma série de efeitos em cascata que podem comprometer o bom funcionamento dos ecossistemas. Não foi por acaso que, no início deste ano, a Comissão Europeia apresentou uma estratégia para combater o que considera ser o “declínio alarmante” dos polinizadores, procurando inverter as perdas até 2030 e combater as principais causas, como a ocupação do solo e o uso de produtos químicos tóxicos.

Para perceberem como os insetos reagem à presença de pesticidas usados nas plantas onde vão buscar o néctar de que dependem para viver, um grupo de cientistas quis verificar se os abelhões-terrestres (Bombus terrestris), uma das principais espécies polinizadoras, conseguem detetar o sabor de pesticidas nas flores que visitam. E se, a terem essa capacidade, procuram evitá-las.

Para isso, criaram experiências em laboratório nas quais misturaram uma solução açucarada, semelhante ao néctar, com pesticidas neonicotinóides e do grupo da sulfoximina, em concentrações variadas. Depois, libertaram abelhões e mediram as suas reações fisiológicas quando provaram o néctar, para perceberem se, de facto, a contaminação do néctar pelos pesticidas provocava alguma resposta eletrofisiológica.

Os resultados mostraram que não havia qualquer diferença na resposta fisiológica quer o abelhão provasse o néctar com pesticidas ou a solução açucarada ‘limpa’ que usaram como método de controlo. E continuava a não haver reação mesmo que a concentração de pesticida fosse letal para o pequeno inseto polinizador.

Por isso, os cientistas concluem que o aparelho bocal dos abelhões não é capaz de distinguir a presença de pesticidas no néctar e, por isso, não evitam ingeri-lo, expondo-os a possíveis problemas de saúde ou mesmo ao risco de morte.

Num artigo publicado recentemente na revista ‘eLife’, os investigadores avançam que os abelhões consumiam a mesma quantidade de néctar, estivesse ou não contaminado.

“Como os abelhões não detetam o sabor de pesticidas e não experienciam consequências negativas imediatas por bebê-lo, provavelmente não serão capazes de evitar consumir néctar contaminado com pesticidas”, argumenta Rachel Parkinson, investigadora da Universidade de Oxford e primeira autora do artigo.

“Esta investigação é importante quando se considera o uso de pesticidas em culturas exteriores devido ao risco que representam para as abelhas, uma vez que elas não evitarão beber esses compostos”, explica. A cientista acredita que os resultados podem ajudar a desenvolver pesticidas não-tóxicos que tenham um sabor ‘azedo’ e que, por isso, dissuadam os polinizadores de ingeri-los.





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