Orquídeas surgiram no hemisfério Norte e partilharam Terra com os dinossauros
A família das orquídeas é uma das mais diversas do planeta, com cerca de 29.500 espécies conhecidas, e é admirada, tanto dentro como fora do mundo da Ciência, por estar presente em praticamente todos os tipos de habitats, incluindo acima do Círculo Polar Ártico.
Até agora, o consenso científico apontava que as orquídeas teriam surgido há 90 milhões de anos ou mais, no supercontinente conhecido como Gondwana, que se localizava onde agora está a Austrália. No entanto, a história evolutiva das orquídeas pode ser outra.
Uma equipa de dezenas de cientistas sugere que essa família de plantas terá surgido há cerca de 85 milhões de anos na Laurásia, o outro supercontinente que agruparia os territórios que estão hoje no hemisfério Norte da Terra.
Num artigo publicado na revista ‘New Phytologist’, esses investigadores dizem ter feito a reconstrução mais completa até agora conseguida da história evolutiva da família Orchidaceae, que inclui 40% de todos os géneros de orquídeas reconhecidos pela comunidade científica, bem como cerca de 7% de todas as espécies conhecidas.
Através desse trabalho de afinação da ‘árvore da vida’ das orquídeas, que resulta de décadas de investigação científica, os autores pretendem contribuir não apenas para o conhecimento sobre essas espécies, mas para a sua conservação. Embora as orquídeas sejam uma das famílias de plantas com flor com o maior número de espécies, é também uma das mais ameaçadas.
A desflorestação, o comércio ilegal e os efeitos das alterações climáticas são alguns dos principais fatores que têm provocado a redução das populações ou da área de distribuição, ou mesmo causado extinções locais.
De acordo com um relatório de 2023 sobre o estado das plantas e dos fungos de todo o mundo, elaborado pelos especialistas do Real Jardim Botânico de Kew (Reino Unido), estima-se que 56% de todas as espécies de orquídeas enfrentem algum nível de ameaça.
“As orquídeas não são apenas extraordinárias joias da natureza”, assinala, em comunicado, Alexandre Antonelli, diretor de Ciência do Real Jardim Botânico de Kew e um dos principais autores do artigo. “Elas também guardam os mistérios da vida na Terra: como as espécies evoluem, se adaptam e se distribuem”, acrescenta, recordando que “salvaguardar o seu futuro é fundamental para proteger as interações complexas que [as orquídeas] desempenham nos ecossistemas”.
Este trabalho, dizem os seus autores, é apenas um primeiro passo numa demanda em que o destino será a recriação da história evolutiva das orquídeas abrangendo todos os géneros conhecidos, para ser possível vislumbrar uma verdadeira ‘árvore da vida’ deste grupo de plantas com flor que surgiu e proliferou no tempo em que os dinossauros, como o T-rex, eram os animais que dominavam o planeta.