Zara pede explicações a entidade que declara sustentável algodão que utiliza
O grupo a que pertence a Zara pediu esclarecimentos à entidade que certifica como sustentável o algodão utilizado nos seus produtos, depois de a marca ter sido associada a desflorestação ilegal, apropriação de terras, violência e corrupção no Brasil.
“Levamos extremamente a sério as alegações contra a Better Cotton, que proíbe terminantemente nos seus requisitos práticas como a apropriação de terras e a desflorestação. Consequentemente, solicitámos à organização que partilhasse, o mais rapidamente possível, o resultado da investigação independente que foi levada a cabo e as medidas necessárias para garantir uma certificação de algodão sustentável que respeite os mais elevados padrões”, refere o grupo Inditex numa nota enviada à agência Lusa em reação à divulgação hoje de uma investigação sobre a produção brasileira de algodão.
O trabalho da organização não-governamental britânica “Earthsight” analisa o grande desenvolvimento da produção brasileira de algodão para exportação e segue o destino de mais de 800.000 toneladas desse algodão, contaminado, mas certificado, para empresas na Ásia, onde é transformado em peças de roupa para as marcas venderem depois, especialmente na Europa.
A ONG revela, no extenso trabalho a que a Lusa teve acesso, que passou mais de um ano a analisar imagens de satélite, decisões judiciais, registos de embarque, e a ir disfarçada a feiras comerciais globais para localizar e seguir esse algodão, produzido no Cerrado brasileiro por duas grandes empresas, que negaram qualquer ilegalidade.
O algodão foi vendido entre 2014 e 2023 a oito fabricantes de vestuário em países como a Indonésia, o Paquistão ou o Bangladesh, fornecedores das marcas Zara e H&M, entre outras.
A “Earthsight” considera que as empresas e os consumidores na Europa e América do Norte estão a impulsionar a desflorestação, invasão de terras e violações dos direitos humanos de uma nova forma, “não pelo que comem, mas pelo que vestem”, ainda que assinale que nem a H&M nem a Zara compram o algodão diretamente aos produtores.
Segundo a ONG, todo o algodão contaminado foi certificado como sustentável pela “Better Cotton”, uma entidade que diz ser o maior programa de sustentabilidade do algodão a nível mundial e que tem como missão ajudar as comunidades a prosperar protegendo e restaurando o ambiente.
Com sede em Genebra e em Londres, a “Better Cotton” já foi por várias vezes acusada de ‘greenwashing’ (divulgação de falsas práticas sustentáveis através de ações de ‘marketing’), secretismo e incumprimento da proteção dos direitos humanos.
Perante as acusações da “Earthsight”, a “Better Cotton” disse ter aberto um inquérito.
Questionada pela ONG, a H&M disse estar a identificar com aquela entidade necessidades de melhorar o processo de certificação.
Na carta que enviou à “Better Cotton” na sequência da investigação, o grupo Inditex indica que as informações que pede serão “fundamentais para a avaliação de possíveis limitações” à utilização da sua certificação.
O grupo Inditex, líder mundial de venda de roupa a retalho, inclui também marcas como a Pull&Bear, Massimo Dutti, Bershka e Stradivarius.