Entrevista a Oriana Rainho Brás: “As universidades têm um potencial enorme na contribuição para a regeneração social e ecológica”



O Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) assinalou um marco ambiental significativo com a  plantação de 360 árvores na sua minifloresta urbana no início de fevereiro e esta segunda-feira, dia 22 de Abril, entre as 14h e as 17h, o ISEG celebra o Dia da Terra numa oficina para cuidar das plantas, do solo e do espaço, onde também darão início a uma pilha de compostagem.

Oriana Rainho Brás, antropóloga, investigadora auxiliar no SOCIUS/CSG, ISEG, Universidade de Lisboa. Coordenadora do projeto TERRARE: Investigação-ação para regeneração social e ecológica explica à Green Savers que este projeto surgiu em 2022 com uma candidatura a um contrato de investigadora auxiliar no SOCIUS/CSG, ISEG, Universidade de Lisboa, e teve início em 2023, com a aprovação dessa candidatura.

Nele, continuou, articulam-se a vontade pessoal e profissional de se concentrar em investigação interdisciplinar aplicada às questões socioecológicas, com o trabalho que o ISEG tem estado a desenvolver internamente, nomeadamente através do ISEG Sustainability e de diversos projetos de investigação e abordagens docentes. 

Para a investigadora, “é cada vez mais claro que precisamos de abordagens interdisciplinares, multidisciplinares e sensíveis para resolver os problemas ambientais”. A extrema urgência em reverter as alterações climáticas e as evidências crescentes dos efeitos positivos da reconexão com a natureza “sublinham a importância do envolvimento comunitário nestes processos”, acrescenta, sublinhando que “é nosso argumento que as universidades têm um potencial enorme na contribuição para a regeneração social e ecológica, dependendo da sua capacidade de abrir e (re)conectar áreas do conhecimento e formas de aprender, e de apoiar formas mais positivas e profundas de estar no mundo. É aqui que o nosso projeto atuará”.

Segundo Oriana Rainho Brás, este projeto propõe uma investigação-ação na interface ciência-sociedade no sentido da regeneração do solo, através da criação de uma mini-floresta urbana (segundo o método Miyawaki), no campus do ISEG, com envolvimento da comunidade universitária e do bairro.

Os próprios processos e resultados do projeto constituem, segundo a investigadora, material para um estudo sobre a participação comunitária na regeneração do solo, a ser publicado. Porém, alerta, e sobretudo através da mini-floresta, o projeto “pretende ser um laboratório vivo onde diferentes pessoas e grupos podem estudar processos e resultados e iniciar as suas próprias iniciativas em conexão com a mini-floresta”.

Quem é que ajuda na manutenção da minifloresta?

Oriana Rainho Brás explicou ainda que a criação da mini-floresta, desde o planeamento à implementação e manutenção, decorre através de oficinas interdisciplinares nas quais participam estudantes, docentes, investigadores/as e funcionários/as do ISEG, bem como residentes do bairro.

“Desde o início do projeto contamos com cerca de 70 participantes. Contamos sempre com a presença e conhecimento do biólogo António Alexandre, da 2Adapt-Serviços de Adaptação Climática, e co-coordenador da FCULresta, a primeira mini-floresta urbana em Portugal”, realçou.

Neste momento, acrescentou, concluída a plantação em Fevereiro de 2024, têm um grupo de voluntárias/os – estudantes, investigadores/as, funcionários/as e residentes do bairro – que regam a mini-floresta de dois em dois dias, inscrevendo-se para tal num ficheiro partilhado.

No dia 22 de Abril, entre as 14h e as 17h, “celebramos juntos o Dia da Terra numa oficina para cuidar das plantas, do solo e do espaço, onde também daremos início a uma pilha de compostagem. No fim, como de costume, faremos um piquenique!”

Ao longo do projeto estabeleceram também parcerias com a Valorsul-Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos das Regiões de Lisboa e do Oeste, S.A., que forneceu o composto para a mini-floresta; com a Junta de Freguesia da Estrela, que colabora na divulgação do projeto junto dos residentes do bairro; e com o ICNF Instituto de Conservação da Natureza e Floresta que doou quarenta árvores autóctones.

Quais os benefícios socioambientais das miniflorestas urbanas?

Segundo a investigadora, as mini-florestas contêm enorme biodiversidade e caracterizam-se por uma elevada densidade vegetal (por exemplo, no nosso caso, mais de 360 plantas de 25 espécies autóctones), em espaços tão pequenos quanto 300m2, sendo especialmente adequadas para o espaço urbano, onde, frequentemente, o espaço livre escasseia.

“Podemos criá-las em terrenos em desuso ou reconvertendo espaços ajardinados. Podemos desenhá-las e criá-las no sentido de estimular relações positivas entre pessoas e entre estas e outros seres, contribuindo para o bem-estar dos envolvidos. Assim, ao invés de nos desesperarmos com a dimensão e inexorabilidade da crise ecológica, conseguimos ver ações possíveis, ao pé de casa, e juntar-nos a outros/as para as concretizar”, explica.

Além disso, conclui, “tal como referem os autores do guia Miniflorestas para MegaAprendizagens publicado em 2023, as mini-florestas urbanas trazem os benefícios da biodiversidade, diminuição de pragas, sequestro de CO2 e absorção de micropartículas no ar, assim como redução do ruído, regulação térmica, maior absorção de água, maior estabilidade do solo, colheitas, benefícios para a saúde respiratória, circulatória e mental dos seres humanos, e ainda maior valor económico dos imóveis próximos e contributos para a educação”.

 





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