Associação defende coberturas verdes e jardins verticais urbanos em evento no Porto
A Associação Nacional de Coberturas Verdes (ANCV) defendeu ontem, na NBS Urban Summit que debate a temática até esta sexta-feira, no Porto, o investimento em coberturas verdes e jardins verticais urbanos para aumentar a resiliência ambiental das cidades.
“Além de nos focarmos na questão das coberturas verdes, dos jardins verticais, de tudo aquilo que é a vegetação aplicada ao edifício, nós quisemos ir um bocadinho mais longe e abarcar outras ‘nature-based solutions’ [NBS, soluções baseadas na natureza], como ‘raingardens’ [jardins de chuva] e outras soluções que são muito importantes para a resiliência da cidade”, disse à Lusa Paulo Palha, presidente da ANCV, organizadora do evento que decorre no Pavilhão Rosa Mota – Super Bock Arena.
A ANCV, que também adota a marca Greenroofs, quer “promover as infraestruturas verdes nas cidades, especialmente as que podem ser instaladas em edifícios (novos ou pré-existentes), como as coberturas verdes, destacando a sua enorme importância e os inúmeros contributos que podem dar para a possibilidade de criar territórios urbanos saudáveis, sustentáveis, biodiversos e resilientes”, segundo o seu ‘site’.
Como até 2050 cerca de 70% da população mundial viverá em cidades, estas “têm que crescer e com isso têm de encontrar soluções para lidar com os elementos naturais”, disse Paulo Palha à Lusa.
“É tempo para que os projetos consigam nascer com estas soluções já incorporadas”, vincou Paulo Palha, tentando contrariar a tendência de se “fazer estudos atrás de estudos atrás de estudos e adiar a decisão”, defendendo que em 2024, numa altura em que várias cidades (como o Porto) já têm objetivos ambientais para 2030, “é tempo para fazer ‘summits’ [cimeiras] mas acima de tudo é tempo para a ação”.
Para o presidente da ANCV, “o que custa mais é o primeiro passo”, considerando que anteriormente “havia uma certa cerimónia com a indústria da construção, se calhar, em interferir ou em mostrar caminhos”, algo que já não acontece tanto hoje em dia.
“A própria associação [ANCV] é um bom exemplo, nasceu unindo três tipos de instituições num triângulo bem sólido: universidades, municípios e empresas”, que são os protagonistas que “podem fazer as coisas avançar, seja pela parte da decisão política, seja pela capacidade de aplicar as soluções, seja naquilo que é o melhoramento das soluções através da investigação”.
Para Paulo Palha, “o tema entrou na esfera económica” e “os próprios promotores imobiliários veem nestas soluções uma forma de valorizar os seus investimentos”, pelo que “não há qualquer desculpa para um decisor político municipal ou nacional não avançar” com infraestrutura verde.
A vegetação têm ainda a “vantagem”, segundo Paulo Palha, de ser sentida “como bonita” e um “tema ‘sexy’ para as cidades”, configurando “uma oportunidade para as coisas irem um bocadinho mais depressa”.
“Nós temos que fazer um ‘zoom out’ e perceber que somos parte da natureza”, argumentou, já que quando há “inundações, incêndios, milhares de pessoas no mundo a morrer por causa da ilha de calor” nas cidades, isso afeta o ser humano “enquanto espécie”.
O responsável considera que “a urbanização das pessoas faz com que elas percam, às vezes, a ligação com o mundo natural”, sendo necessária uma “reeducação ambiental” para que as pessoas não se esqueçam do “seu lugar no planeta”.
“Se formos inteligentes e pararmos para analisar, temos um problema para resolver, que tem a ver, em primeiro lugar, com o nosso conforto, e em última linha com a nossa existência”, disse à Lusa.
O evento, que decorre até esta sexta-feira e contou com o apoio municipal da Águas e Energia do Porto, recebe ainda os arquitetos Nuno Brandão Costa, autor do Terminal Intermodal de Campanhã (TIC), a arquiteta paisagista Laura Gatti — co-autora do premiado edifício milanês Bosco Verticale, e o arquiteto paisagista Kongjian Yu, que desenvolveu o conceito de ‘cidade-esponja’ em mais de 600 localizações.