Cientistas registam viagem mais longa de tubarão-seda com 27.500 km em 18 meses



Cientistas conseguiram registar a migração mais extensa conhecida até agora de um tubarão-seda, que percorreu mais de 27.500 quilómetros em aproximadamente 18 meses, desde que colocou um dispositivo de rastreamento na reserva marinha das Ilhas Galápagos (Equador).

O estudo constitui um recorde ao superar o anterior registo em quase seis vezes, conforme destacou esta quinta-feira, em comunicado, a Fundação Charles Darwin (CDF), que tem feito parte da investigação em conjunto com o Guy Harvey Research Institute (GHRI), o Centro de Investigação de Tubarões da Fundação Save Our Seas (SOSF-SRC) da Universidade Nova Southeastern, na Florida, e o Gabinete do Parque Nacional de Galápagos (GNPD).

A investigação ilustra também a utilização extensiva do oceano aberto pelo tubarão, muito além das jurisdições nacionais de cada país, o que para os investigadores demonstra “a necessidade urgente de estabelecer regulamentos para conservar a biodiversidade oceânica para além das áreas de jurisdição nacional”.

O espécime objeto do estudo, uma fêmea chamada Genie em homenagem à falecida ecologista de tubarões Eugenie Clark, foi marcada com um transmissor de satélite colocado na sua barbatana dorsal perto da Ilha Wolf, no norte da Reserva Marinha de Galápagos, em 17 de julho de 2021.

Este tubarão-seda (carcharhinus falciformis) embarcou de seguida numa extensa viagem que percorreu 27.666 quilómetros em 546 dias até se perder o rasto em 14 de janeiro de 2023.

Esta viagem foi o equivalente à extensão dos Estados Unidos de costa a costa aproximadamente quatro vezes e incluiu duas migrações significativas para oeste (a meio caminho do Havai) que se estenderam até 4.755 quilómetros do local de marcação para águas internacionais, que são áreas de elevada pressão de pesca e regulamentação mínima.

A sua velocidade média de viagem foi de aproximadamente 50,67 quilómetros por dia, uma taxa consideravelmente mais elevada do que outras espécies de tubarões maiores anteriormente rastreadas com transmissores de satélite montados em barbatanas.

Para surpresa dos cientistas, mais de 99 por cento do tempo Genie esteve em águas internacionais a oeste e a sul, longe das águas jurisdicionais do Equador em torno das Ilhas Galápagos, por isso os investigadores assinalaram evidências da “necessidade crítica de cooperação internacional na proteção de esses tubarões oceânicos de longa distância”.

O principal autor do estudo e coinvestidor principal do projeto Shark Ecology do CDF, Pelayo Salinas, observou que “compreender as rotas migratórias dos tubarões-seda e outros tubarões ameaçados de extinção é crucial para o desenvolvimento de estratégias de gestão eficazes para reverter o seu declínio contínuo”.

“Os tubarões têm percorrido os oceanos do mundo há centenas de milhões de anos e as fronteiras geográficas que os humanos estabeleceram no papel não significam nada para eles”, lembrou Pelayo.

Os tubarões-seda são particularmente vulneráveis à sobrepesca devido ao seu crescimento lento, maturidade tardia e elevada procura no comércio global de barbatanas de tubarão.

Esta espécie está classificada como vulnerável na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), por ser um dos tubarões mais frequentemente capturados na pesca artesanal e industrial, e é uma prioridade de conservação para o CDF e outras organizações.

O coautor do estudo e diretor do SOSF-SRC e GHRI, Mahmood Shivji, destacou a dificuldade de ter conseguido acompanhar Genie durante um ano e meio, porque é difícil ter dados com boa resolução de posições durante mais de um ano.





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