“Um dia triste para a natureza”: Representantes dos Estados-membros aprovam proposta da CE para baixar proteção do lobo na Europa



Esta quarta-feira, numa reunião de representantes dos Estados-membros da União Europeia, foi aprovada a proposta da Comissão Europeia (CE) para reduzir o estatuto de proteção dos lobos na região ao abrigo da Convenção de Berna, passando de espécie “estritamente protegida” para apenas “protegida”.

De acordo com o ‘Euractiv’, a proposta, que fora avançada pelo Executivo de Ursula von der Leyen em dezembro passado, recebeu o apoio de todos os Estados-membros, incluindo Portugal, com a exceção de Espanha e da Irlanda, que terão votado contra. Os conservacionistas já reagiram ao resultado da votação, e a associação portuguesa ANP|WWF, através de uma publicação na rede social X, declara que hoje é “um dia triste para a natureza”, acrescentando que “em vez de procurar soluções e investir mais em medidas preventivas, a UE [União Europeia] opta por permitir a caça ao lobo”.

A nível europeu, a organização Eurogroup For Animals descreve o resultado da votação como indo ao arrepio das evidências científicas e que se a decisão for aceite pelo Secretariado da Convenção de Berna “facilitará a morte de lobos, ao mesmo tempo que envia uma mensagem dramática sobre o futuro da conservação e da coexistência com os animais selvagens”.

Por seu lado, a Birdlife International denuncia que o resultado da votação mostra que os Estados-membros estão a apoiar “decisões motivadas por interesses pessoais que contradizem as evidências científicas, permitindo à Presidente von der Leyen usar o seu poder político para uma vingança pessoal contra os lobos e para agradar aos seu eleitorado agrícola”.

“Desde que o seu pónei foi tragicamente morto por um lobo em 2022, [von der Leyen] tem usado a sua influência para alterar a legislação da UE através de acordos clandestinos”, acusa a organização.

Contudo, do outro lado da barricada, os apoiantes da proposta saúdam o resultado. O Partido Popular Europeu (PPE), a família partidária do Parlamento Europeu que integra, entre outros, o Partido Social Democrata (PSD) português e o partido alemão CDU ao qual von der Leyen pertence, diz, numa nota de imprensa, que este é “o primeiro passo para ajustar o estatuto de proteção dos lobos na Europa”.

O eurodeputado e porta-voz do PPE na comissão parlamentar de Agricultura, afirma que “a decisão de hoje é o início de um processo há muito para controlar as populações de lobos”, salientando que “à medida que essas populações aumentam, também o seu estatuto de proteção deve evoluir”.

No mesmo comunicado, o eurodeputado explica que a redução do estatuto de proteção dos lobos “dará aos Estados-membros mais liberdade para implementarem planos de gestão eficazes” e que “dá poder às comunidades rurais para tomarem as medidas necessárias para se protegerem”, não deixando de referir, contudo, que é preciso continuar a apostar em medidas para proteger o setor da pecuária.

A decisão de hoje terá, no entanto, ainda de ser ratificada amanhã, dia 26 de setembro, em sede de Conselho da UE, após o que, para vigorar, terá se ser aceite pelo Secretariado da Convenção de Berna, sendo que uma decisão final é esperada para dezembro.

Embora a ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, tenha ao jornal Público assegurado que o Governo português pretende manter a proteção do lobo-ibérico em Portugal, ainda que tenha apoiado a proposta da CE, resta saber que implicações terá o resultado da votação de hoje para o último grande predador da fauna portuguesa.





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