“Um dia triste para a natureza”: Representantes dos Estados-membros aprovam proposta da CE para baixar proteção do lobo na Europa
Esta quarta-feira, numa reunião de representantes dos Estados-membros da União Europeia, foi aprovada a proposta da Comissão Europeia (CE) para reduzir o estatuto de proteção dos lobos na região ao abrigo da Convenção de Berna, passando de espécie “estritamente protegida” para apenas “protegida”.
De acordo com o ‘Euractiv’, a proposta, que fora avançada pelo Executivo de Ursula von der Leyen em dezembro passado, recebeu o apoio de todos os Estados-membros, incluindo Portugal, com a exceção de Espanha e da Irlanda, que terão votado contra. Os conservacionistas já reagiram ao resultado da votação, e a associação portuguesa ANP|WWF, através de uma publicação na rede social X, declara que hoje é “um dia triste para a natureza”, acrescentando que “em vez de procurar soluções e investir mais em medidas preventivas, a UE [União Europeia] opta por permitir a caça ao lobo”.
🚨 ÚLTIMA HORA: Os países da UE concordaram em adotar a proposta da Comissão para diminuir o nível de proteção do lobo.
Em vez de procurar soluções e investir mais em medidas preventivas, a UE opta por permitir a caça ao lobo.Um dia triste para a natureza. pic.twitter.com/6WyCIrhvwL
— ANP|WWF (@WWF_Portugal) September 25, 2024
A nível europeu, a organização Eurogroup For Animals descreve o resultado da votação como indo ao arrepio das evidências científicas e que se a decisão for aceite pelo Secretariado da Convenção de Berna “facilitará a morte de lobos, ao mesmo tempo que envia uma mensagem dramática sobre o futuro da conservação e da coexistência com os animais selvagens”.
🚨🐺 #Breaking: in a move that goes against scientific evidence, Member States have just voted in favour to downgrading the protection status of wolves.
If adopted by the Bern Convention, this move will facilitate the killing of wolves while sending a dramatic message on the… pic.twitter.com/W7hAinHqm0
— Eurogroup For Animals (@Act4AnimalsEU) September 25, 2024
Por seu lado, a Birdlife International denuncia que o resultado da votação mostra que os Estados-membros estão a apoiar “decisões motivadas por interesses pessoais que contradizem as evidências científicas, permitindo à Presidente von der Leyen usar o seu poder político para uma vingança pessoal contra os lobos e para agradar aos seu eleitorado agrícola”.
“Desde que o seu pónei foi tragicamente morto por um lobo em 2022, [von der Leyen] tem usado a sua influência para alterar a legislação da UE através de acordos clandestinos”, acusa a organização.
Contudo, do outro lado da barricada, os apoiantes da proposta saúdam o resultado. O Partido Popular Europeu (PPE), a família partidária do Parlamento Europeu que integra, entre outros, o Partido Social Democrata (PSD) português e o partido alemão CDU ao qual von der Leyen pertence, diz, numa nota de imprensa, que este é “o primeiro passo para ajustar o estatuto de proteção dos lobos na Europa”.
O eurodeputado e porta-voz do PPE na comissão parlamentar de Agricultura, afirma que “a decisão de hoje é o início de um processo há muito para controlar as populações de lobos”, salientando que “à medida que essas populações aumentam, também o seu estatuto de proteção deve evoluir”.
No mesmo comunicado, o eurodeputado explica que a redução do estatuto de proteção dos lobos “dará aos Estados-membros mais liberdade para implementarem planos de gestão eficazes” e que “dá poder às comunidades rurais para tomarem as medidas necessárias para se protegerem”, não deixando de referir, contudo, que é preciso continuar a apostar em medidas para proteger o setor da pecuária.
A decisão de hoje terá, no entanto, ainda de ser ratificada amanhã, dia 26 de setembro, em sede de Conselho da UE, após o que, para vigorar, terá se ser aceite pelo Secretariado da Convenção de Berna, sendo que uma decisão final é esperada para dezembro.
Embora a ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, tenha ao jornal Público assegurado que o Governo português pretende manter a proteção do lobo-ibérico em Portugal, ainda que tenha apoiado a proposta da CE, resta saber que implicações terá o resultado da votação de hoje para o último grande predador da fauna portuguesa.