Agricultores do Oeste apostam no olival para ultrapassar problemas
Sem baixar os braços perante as dificuldades, há agricultores na região Oeste a apostar no olival e na maçã onde já produziram pera rocha, ameaçada por doenças e pelas alterações climáticas, e vinha, quando há problemas de escoamento dos vinhos.
“Se vamos baixar os braços por a pera rocha estar com rendimentos baixos, se nós não vamos à procura de novas oportunidades, vou despedir trabalhadores, vou abandonar terrenos e não é isso a minha prática de vida”, diz à agência Lusa Pedro Bernardes.
Habituado a arriscar e a ser resiliente perante a imprevisibilidade da atividade sempre dependente das condições climatéricas, este agricultor de Torres Vedras, no distrito de Lisboa, tem vindo a reduzir a área de cultivo da pera rocha e da vinha, em prol de outras culturas.
Nos últimos cinco anos, arrancou 12 dos 40 hectares de pera rocha que tinha, substituindo cinco deles por macieiras, e, há uma semana, três por oliveiras.
“Os pomares estavam envelhecidos, mas a causa principal do arranque tem sido o ‘fogo bacteriano’ e outras doenças” que têm afetado os pomares e a fruta, explica.
A fazer contas à vida, conta que tinha pomares com pouco mais de seis toneladas por hectare e a receber 30, 35 ou 40 cêntimos por quilograma. “Dá uma quantia de dois mil euros por hectare, quando temos um custo de produção talvez de 10 mil por hectare. Com o preço da pera rocha e com as quebras de produção que tinha, deixou de ser economicamente viável”, assume.
Pedro Bernardes equaciona também arrancar alguns dos 55 hectares de vinha que tem e optar por olival, tendo em conta as dificuldades de escoamento do vinho influenciadas pelo decréscimo do consumo.
Estefânio Teófilo, outro agricultor do concelho de Torres Vedras, optou há 10 anos por converter em olival um terreno de cinco hectares de vinha que herdou da família.
“Pensámos pôr alguma coisa diferente. Pensámos em vários produtos, como mirtilos ou framboesas, mas precisavam de muita mão-de-obra e não temos na região. Então, decidimos pôr o olival, porque a apanha é mecânica”, conta o olivicultor à Lusa.
Apesar de o olival se adaptar ao clima e ao solo local e ser “rentável”, as “maiores dificuldades” de produzir azeite numa região onde não há essa tradição são “a falta de máquinas para a apanha e de apoio técnico, porque o que existe está tudo ligado a hortícolas, à vinha e aos pomares”.
A máquina para a colheita das azeitonas vem de Ponte de Lima (distrito de Viana do Castelo) e é num lagar em Santarém que as entrega, o que faz aumentar os custos de produção.
Os dois agricultores querem associar-se ao projeto que a cooperativa Frutoeste está, 35 anos após ter sido fundada, a desenvolver na região para lutar pelo futuro da agricultura.
Com uma centena de associados e quatro milhões de faturação anual, a organização de produtores de pera, limão e maçã aguarda reconhecimento do Ministério da Agricultura também para o azeite.
O projeto decorre da atual conjuntura: às quebras na produção de pera rocha motivadas por doenças e pelas alterações climáticas, que afetam a produtividade dos pomares e a rentabilidade dos agricultores, juntam-se problemas de escoamento dos vinhos, face às quebras de consumo, e os agricultores precisam de diversificar culturas para ultrapassarem dificuldades e se adaptarem às alterações climáticas.
“Era interessante fazer uma associação e mais produtores, porque depois, tendo em lagar em Torres Vedras, começa a haver mais máquinas de colheita e mais serviços de apoio técnico”, salienta Estefânio Teófilo.
“O nosso projeto é revitalizar o olival na região Oeste. Há mais de um século, todas as parcelas agrícolas tinham oliveiras e havia lagares, porque se precisava do azeite não só para a gordura da alimentação, mas também para a iluminação”, recorda à Lusa o administrador da Frutoeste, Domingos dos Santos.
As alterações climáticas, a “favorecer a produção de azeitonas na região”, a falta de lagares de azeite no Ribatejo e no Oeste, e a possibilidade de adaptar maquinaria e instalações já existentes para a vitivinicultura são encaradas como oportunidades.
Por outro lado, “o azeite é um alimento de futuro”, justifica, por estar em linha com os hábitos da alimentação saudável e continuar a ser usado na dieta mediterrânica. O seu consumo é recomendado por médicos e cientistas tendo em conta os benefícios para a saúde, motivo pelo qual “o potencial de crescimento é muito grande”.
A cooperativa vai ainda investir quase um milhão de euros na instalação de um lagar, lançar no mercado uma nova marca de azeite em 2025 e dar apoio técnico aos olivicultores.