Certificação de créditos de plástico arranca em Cabo Verde
Cabo Verde entrou no processo de certificação de créditos de plástico que permitirá dar um valor monetário às ações de limpeza, reciclagem e transformação já realizadas por organizações locais, disseram ontem promotores da iniciativa à Lusa.
“Podemos dizer que começou o processo de certificação” de créditos de plástico e “pretendemos que as atividades destas entidades em Cabo Verde possam ter pequenos incrementos para começarem a produzir dados”, afirmou Alexandre Seiça, diretor executivo da C-Plastic, empresa portuguesa que promove a certificação e processos associados.
A firma estabeleceu três protocolos para dar início ao projeto, no caso, com a Biosfera – Associação para Defesa do Meio Ambiente, da ilha de São Vicente, a Ekonatura, na ilha de Santiago, e o projeto Desplastificar a Boa Vista, na ilha com o mesmo nome.
Vão ser feitas “algumas melhorias na escolha dos plásticos que se recolhem” e dar início ao registo de “dados estatísticos para uma base de dados, para depois elaborar o processo de certificação”, explicou.
Uma tonelada de plástico devidamente classificada pode valer, na conjuntura atual deste tipo de mercado, o equivalente a cerca de 500 euros, disse Alexandre Seiça, com base na experiência observada nos países asiáticos, onde a dinâmica é intensa.
O dinheiro serve “para pagar todo o trabalho que deu origem à limpeza e reciclagem daquele plástico”, esforço que, depois de ser recompensado, pode integrar, por exemplo, o relatório de sustentabilidade de uma empresa que comprou esses créditos no respetivo mercado internacional.
Ou seja, o mercado dos créditos não paga pelo plástico em si, que pode ainda ser rentabilizado como matéria-prima para produção de outros materiais ou equipamentos, no âmbito de um modelo de economia circular.
A expetativa é que, com os três protocolos assinados e outros em perspetiva, os primeiros euros provenientes da transformação de plásticos cheguem ainda este ano a Cabo Verde.
A C-Plastic, à qual cabe um valor em função dos créditos angariados, está ainda a explorar formas de incluir este processo no acordo entre Portugal e Cabo Verde, que permitiu ao arquipélago começar a trocar dívida bilateral por investimento em infraestruturas públicas de transição energética, envolvendo empresas portuguesas.
“Estamos a dar as ferramentas para começar o trabalho, cumprir as regras”, com formação de equipas e explicação da plataforma internacional, tendo em conta que o escrutínio de todo o processo é fundamental para que haja confiança na emissão dos créditos, referiu Filipa Reis Carvalho, diretora comercial.
Agora, a prioridade é “consolidar procedimentos locais, acumular dados, fazer um histórico”, acrescentou Alexandre Seiça.
“Se até final do ano conseguirmos certificar créditos destas entidades, quer dizer que a visibilidade do trabalho fica mais clara para as empresas que queiram comprar os créditos e ajudar estas organizações a prosseguir com o seu trabalho”, detalhou.
À medida que o processo avançar, deverão surgir novas oportunidades: “vamos melhorar processos de pesagem e seleção de polímeros, fazer fardos e classificar, descobrindo caminhos de reciclagem que ainda não tinham sido pensados”, indicou.
Além de Cabo Verde, a C-Plastic está a avaliar a entrada em Angola e em São Tomé e Príncipe, tendo em conta que “é a língua que une estas geografias”.
Em Cabo Verde, a semelhança com Portugal a nível da legislação é uma vantagem para acelerar a possível criação de mecanismos como a “responsabilidade alargada do produtor”, que responsabiliza os produtores de plástico por todo o ciclo de vida do produto, desde a produção até à gestão dos resíduos.
“Se sabemos que já existem, no mundo, soluções que funcionam e são um sucesso, porque não adotá-las noutras geografias, como Cabo Verde, que tem todas as características para fazê-lo?”, questionou Filipa Carvalho.
O objetivo é haver menos plástico no campo, nas cidades e nos mares, que constituem a quase totalidade do território cabo-verdiano.
A certificação avança depois de um estudo promovido no arquipélago, em 2024, pela Associação Portuguesa de Empresas de Tecnologias Ambientais (Apemeta) com apoio do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua.