Câmara de Sintra avança com projeto de parque ecológico entre as praias Grande e da Adraga



O projeto do Parque Ecológico da Adraga-Praia Grande, em 54,6 hectares no litoral de Sintra, vai ser desenvolvido pelo município, fundação Aga Khan e organismos públicos do Ambiente, segundo um protocolo aprovado ontem pelo executivo sintrense.

“A criação do Parque Ecológico da Adraga-Praia Grande (PEAPG) surge como um projeto que visa a recuperação paisagística e a valorização de uma área costeira de grande interesse ambiental e cultural no concelho”, promovendo “práticas sustentáveis que pretendem incentivar a comunidade local e visitantes para a importância da preservação ambiental”, lê-se na proposta do presidente da autarquia, Basílio Horta (PS).

O município adquiriu 54,6 hectares (ha) entre as praias da Adraga e Grande e o executivo aprovou, por unanimidade, a minuta do protocolo entre a autarquia e o Fundo Aga Khan para a Cultura (AKTC, na sigla em inglês), a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) de Lisboa e Vale do Tejo, o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) e Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Segundo a minuta do protocolo, a que a Lusa teve acesso, a área do PEAPG caracteriza-se pela “presença significativa de espécies invasoras”, sendo prioritárias ações de controlo e erradicação destas espécies “para restaurar os ecossistemas locais e promover a biodiversidade nativa”.

Os cerca de 25 quilómetros de costa do município estão abrangidos pelo Parque Natural de Sintra-Cascais e pela Zona Especial de Conservação que resultou da recente reclassificação do Sítio de Interesse Comunitário, com componentes terrestre e marinha.

A sobreposição das áreas protegidas e da Rede Natura 2000, como ocorre no município, confere “proteção legal mais robusta” em espaços com elevada riqueza de valores naturais, que importa preservar para as futuras gerações, apesar do parque natural e a orla costeira terem vindo “a sofrer danos irreversíveis” com propagação de espécies invasoras, que anulam o desenvolvimento de espécies autóctones, algumas com estatuto especial de proteção.

Esta área no litoral é rica em vestígios paleontológicos e arqueológicos, nomeadamente as pegadas de dinossáurios e as jazidas Paleolíticas da Praia Grande, bem como importantes geomonumentos de interesse natural e cultural, como o Calhau do Corvo e a Praia Grande do Rodízio.

Nesse sentido, o objetivo do projeto visa “proteger e incrementar os valores naturais”, garantindo “a preservação dos ‘habitats’ e das espécies endémicas”, eliminar ou “controlar espécies vegetais e animais invasoras”, restaurando o “equilíbrio ecológico e da biodiversidade local”, e gerir “o acesso dos visitantes às áreas mais sensíveis”, minimizando “o impacto nos ecossistemas mais frágeis”.

A primeira fase do projeto, até 31 de julho, consistirá na limpeza de 35% da área a norte e instalação de três quilómetros de trilhos sinalizados, enquanto na segunda fase, entre agosto próximo e 31 de dezembro de 2027, será limpa a restante zona, concluídos os trilhos, instalados pontos de observação e áreas de descanso e criado um centro de interpretação ambiental.

Na reunião do executivo, Basílio Horta explicou que o projeto se iniciou com a compra dos cerca de 55 hectares que pertenciam a uma empresa falida (Cintra – Urbanizações Turismo e Construções), por 500 mil euros, em 2021, apesar da fundação Aga Khan pretender desenvolver no local um projeto, que incluía um parque urbano.

O projeto acabou por ser transferido para outro local, mas o presidente da autarquia acrescentou que a fundação, que colabora com o município na área social, “manteve a sua intenção de ajudar” a criar um parque “de grande qualidade”.

“É um projeto de grande qualidade, que vai ter uma repercussão não apenas para Sintra, mas para a região de Lisboa. Eu creio que este parque, este parque ecológico, quando estiver elaborado, quando estiver pronto na sua totalidade, vai ser uma mais-valia muito grande” para “a região de Lisboa, pela localização, pela preservação do ambiente”, considerou.

Um técnico da autarquia adiantou que o parque ecológico poderá ser ampliado até 67 ha, com outras áreas a adquirir pelo município ou em domínio público marítimo, esperando conseguir “ampliar um pouco para sul”, para “abranger o Fojo da Adraga”, até porque a recuperação do parque ecológico, embora possa ser visitado em breve, só ficará concluída após 10 anos.

Além da limpeza das espécies invasoras, incluindo sementes espalhadas no solo, serão instalados passadiços elevados na orla costeira, com miradouros, passadiços com guardas num segundo nível mais recuado, e passadiços apoiados sem guardas, ao lado de trilhos, para acessibilidade a pessoas com mobilidade condicionada.

O vereador Pedro Ventura (CDU) recordou que para a zona esteve previsto “uma unidade hoteleira de cinco estrelas de grande dimensão”, através de um projeto de interesse nacional (PIN), destacando a importância de se estar a “conservar uma área natural de grande valor ambiental e arqueológico”, impedindo que as urbanizações continuem a avançar “sobre uma área costeira” particularmente sensível.

“A criação deste Parque Ecológico da Adraga-Praia Grande será certamente um dos grandes ex-líbris da Área Metropolitana de Lisboa”, considerou o autarca, apelando para que, como “85% dessa área tem que ser reabilitada” e limpa, se comunique às “associações ambientalistas” e de defesa do património “aquilo que se vai fazer” para evitar confusão com outros cortes de arvoredo ilegais na zona.

O vereador social-democrata Luís Patrício também apoiou um projeto “de grande valia para o município” e a comunicação prévia de que se vão “limpar acácias”, uma infestante em toda a zona “da Serra de Sintra até ao mar”.





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