Flores silvestres que crescem em terrenos urbanos podem estar a transmitir metais tóxicos às abelhas

As flores silvestres que crescem em terrenos onde antes estavam edifícios ou fábricas podem acumular metais tóxicos, como chumbo, crómio e arsénico, e estar a passá-los aos insetos polinizadores que se alimentam do seu pólen e néctar.
O alerta é feito num artigo publicado esta semana na revista ‘Ecology and Evolution’, no qual uma dupla de investigadoras, recordando que estudos passados já confirmaram os impactos negativos desses metais na saúde dos insetos e na sobrevivência das suas populações, dizem que mesmo concentrações baixas dessas substâncias no néctar das flores podem ter efeitos prejudiciais de longo-prazo. Por exemplo, a ingestão de metais tóxicos afeta a capacidade de aprendizagem e a memória das abelhas, podendo impedi-las de encontrar alimento.
As conclusões resultam da análise de flores silvestres, como a corriola-campestre (Convolvulus arvensis), o trevo-branco (Trifolium repens) e o trevo-violeta (Trifolium pratense), todas espécies com ocorrência registada em Portugal, colhidas em junho de 2022 em terrenos abandonados no estado do Ohio, nos Estados Unidos da América, uma região com um historial de forte presença industrial.
As autoras explicam que a poluição dos solos por metais pesados é um perigo partilhado por várias cidades pelo mundo fora, e os níveis de contaminação tendem a aumentar à medida que os anos passam. Esses metais podem ter diversas origens, incluindo a degradação de cimento e atividades de exploração mineral, cujas partículas podem viajar pelo ar e percorrer grandes distâncias.
Como tal, e numa altura em que a importância ecológica e até económica dos polinizadores é cada vez mais reconhecida, as investigadoras defendem que é essencial reduzir o risco de exposição desses insetos aos metais tóxicos. Só dessa forma será possível assegurar que projetos de promoção e conservação de polinizadores em meios urbanos têm sucesso.
Para isso, antes de se plantarem flores silvestres nos espaços verdes das cidades, é preciso analisar os solos, para garantir que não contêm contaminantes.
“É muito importante ter flores silvestres como uma fonte de alimento para as abelhas e os nossos resultados não devem desencorajar as pessoas de plantarem flores silvestres nas vilas e cidades”, esclarece, em comunicado, Sarah Scott, primeira autora do estudo.
Com este trabalho, as investigadoras querem sensibilizar – populações, decisores políticos e gestores de zonas urbanas – para a importância da boa saúde dos solos e para a saúde das próprias abelhas.
“Antes de se plantar flores silvestres em áreas urbanas para atrair abelhas e outros polinizadores, é importante considerar a história do terreno e o que poderá estar no solo”, aponta Scott.
Das várias espécies de plantas estudadas, a chicória-do-café (Cichorium intybus), que ocorre em Portugal espontaneamente ou por cultivo, é a que acumula maiores concentrações de metais tóxicos, seguida pelo trevo-branco, pela cenoura-brava (Daucus carota) e pela corriola-campestre.
Os insetos são dos grupos de animais mais ameaçados do planeta e estima-se que as populações de polinizadores selvagens tenham decrescido mais de 50% no último meios século, sobretudo por causa de alterações no uso do solo, bem como pelas alterações climáticas e pela utilização de produtos químicos.
“As alterações climáticas parecem ser avassaladoras, mas a simples plantação de flores em certas áreas pode ajudar a conservar os polinizadores, o que é uma forma realista de as pessoas terem um impacto positivo no ambiente”, destaca Scott.